UM EQUÍVOCO LEGAL

Uma multidão gritava na frente do portão principal da delegacia de uma cidade interiorana, clamando por justiça.

O delegado, recém chegado à cidade e sem condições de controlar o ímpeto popular, ordenou aos carcereiros que mantivessem o meliante longe do alcance daquela gente enfurecida.

As pessoas conversavam entre si de forma acalorada e entre uma conversa e outra o que mais se ouvia naquele momento era uma alusão direta feita à eficácia da Lei n° 11340/2006, batizada de Lei Maria da Penha, a qual foi criada com o intuito de combater todos os tipos de agressões contra a mulher.

De repente, um sujeito alto, de compleição avantajada, saiu do meio da multidão e caminhou em direção ao portão onde se encontrava o reforço policial local e gritou:

- Seu delegado, solte o homem que bateu nas mulheres indefesas, que eu quero ver se ele é valente mesmo e eu aproveito a ocasião para cobrir ele de pancadas.

O delegado, um cidadão perspicaz e prudente, sentiu que aquela gente estava enganada e, para dar um basta naquela celeuma, decidiu esclarecer o equívoco.

Pediu calma à multidão e em seguida informou que aquele homem estava ali detido porque tinha cometido alguns furtos, cuja ação básica consistia em subtrair objetos, especialmente dinheiro, trazidos nos bolsos ou nas bolsas das vítimas. Disse ainda, naquela oportunidade, que se tratava apenas da prisão provisória de um batedor de carteiras, para as averiguações de praxe.

O cidadão alto e forte, que tinha se rebelado antes contra o homem detido, respirou fundo e disse de forma bem calma:

- Seu delegado, pode manter o homem preso. Eu pensei que ele tivesse agredido as moças dos Correios que entregam correspondências no bairro onde eu moro...