... ÊTA POVO DANADO DE BÃO
MANÉ & ZEZÉ
... êta povo danado de bão
Zezé, pensativo, muito pensativo que nem coruja dormindo, vai andando bem devagar. Fumando seu cigarrinho de palha e, de quando em quando, parava para acender o paió.
Numa dessas paradas, avistou, lá na esquina, seu amigo e compadre, o nosso já conhecido Mané.
Mané tava sentado num beiral de parede, antes de dobrar a esquina e, quando viu Zezé se aproximando, foi logo chamando baixinho:
– “Zezé... Zezé... Psiu”... Gesticulando numa maneira bem peculiar de quem tá chamando alguém.
Zezé achegou-se a Mané e depois do cumprimento mão com mão e do bom dia cumpadre, foi logo ouvindo do amigo, ansioso por contar alguma coisa, uma novidade...
– “Zezé, num sabi da maió?”
– “Eu, Mané, qual é, cumpadre. É nova mesmo ou é aquela de ontem ou atrásdonte?”
– “Não, Zezé, é nova, novinha, tá saindo do forno. Ocê sabi, quem mi contou num tem erro, não, senhor... O Fulano, Zezé, imagini só!”
– “Imaginar o quê, Mané. Num adevinho, não, cumpadre.”
– “Aquele, Zezé, das bandas de lá que tava já começando a pedir voto prá ser eleito prá modo de decidir o que é mior ou pior pru povo, Zezé, ocê nem num vai acreditar...”
– “Cumpadre, ocê falou, tá dito e ai de quem falá prá eu qui ocê, meu cumpadre do coração, tá mentindo. Ai dele, cumpadre, vai levar um safanão.”
– “Eu sei, eu sei, Mané. Ocê é memo um cumpanheirão e é meu cumpadre pru resto da vida.”
– “Eu também, Mané, mas qui coisa, qui novidade é esta ouriçando sua cabeça?”
– “Zezé, ele, o da banda de lá, num vai mais pedir voto prá ele, não, mas ele acha que tem muito voto do seu redor que vai dar pru outro candidato. E, óia, nem acredite, o povo diz que ganhou 50 mil mangos...”
– “Ah! é, Mané? Óia que cum 50 mil mango quem suber casa e cumpra casa...”
– “Pois é, Zezé, e o povo não acha ruim, não, cumpadre. Nem por isso, Zezé, o povo aceita ou num apercebe que tá sendo enganado.”
– “Tá bem, Mané, tá bem, cumpadre, êta povão danado de bão.”
– “E tem mais, Zé, agora pediu mais 50 mangos prá aprová a entrega daquele terreno praquela escola.”
– “Qual escola?”
– “Aquela que forma doutô.”
– “E o terreno?”
– “Zé, o terreno é bão, mesmo. Acho até que a escola podia comprar. É particular! Mas num vem ao caso. A coisa é que pediu mesmo 50 mangos. A pessoa gravou toda a conversa.”
– “É, amigão, vamos fumar um pitinho e fazer fumaça. Tá tudo errado! Depois nóis briga com esses piratas que andam por aí, roubando o povão...”