PORTUGUESES DIFERENTES
 
O português falado aqui no Brasil é um pouco diferente do português falado lá em Portugal e quando nos referimos a essas diferenças somos induzidos a aceitar, em princípio, que são apenas três:

a) o léxico, em boa medida diferente, como era de se esperar;

b) a diferença de colocação dos pronomes átonos: no Brasil, em tese, a próclise é muito usada (“me empreste uma caneta aí, rapaz”) e pode representar a diferença;

c) No português brasileiro usamos o gerúndio, lá eles usam o infinitivo, senão vejamos: Aqui dizemos: (Maria está “estudando” a lição de história.) Lá é dito: (Manuel “está a jogar” bola no quintal.)

Lá, se alguém chama uma menina de “rapariga” estará se referindo a uma mulher jovem e por extensão ao feminino de rapaz. Já no português brasileiro, sobretudo na Região Nordeste do país, o vocábulo “rapariga” tem outra conotação, ou seja, tem o significado popular de “prostituta”.

No português falado em Portugal a palavra “puto” serve para designar o tratamento que é dado a um menino de aproximadamente 10 anos; aqui, decerto, tem outra conotação. Lá, por sua vez, a palavra “bicha” quer dizer “fila”; aqui, no Brasil, “bicha” é o nome comum dado aos vermes e répteis de corpo comprido, sem pernas, como a sanguessuga, a lombriga, etc. Numa conotação mais popular da palavra é o sinônimo de “homossexual”.

Em Portugal o vocábulo “pica” tem o significado de “injeção”. Aqui, no Brasil, quando consultamos um dicionário comum esse vocábulo significa “lança antiga, pequena”; “pênis”. Lá o vocábulo “rabo” quer dizer “bumbum”, que não é diferente da conotação que, às vezes, é empregada para esse vocábulo aqui no Brasil.

Quando “estamos a tratar”, ou melhor, quando “estamos tratando” (rs) do assunto esporte (futebol, por exemplo), vemos que alguns termos usados aqui são muito diferentes dos usados lá.

Aqui no Brasil o jogador de futebol que pode pegar a bola com as mãos recebe o nome de “goleiro”, lá em Portugal é chamado de “guarda de redes”; aqui, o atleta que joga no ataque é chamado de “atacante”, lá recebe o nome de “avançado”; a “cobrança de escanteio” aqui, é o “pontapé de canto”, lá. Aqui, o “gol contra” é chamado de “autogolo”, lá; o “tiro de meta” daqui é o “pontapé de baliza”, de lá.

Se nos aprofundarmos um pouco mais no estudo da “língua mãe”, ou se fizermos um “intercâmbio básico” com os “patrícios lusos” que vivem aqui, acabaremos nos acostumando com tudo isso, naturalmente.

Agora, se não detivermos um conhecimento básico da diferenciação de nosso idioma para com o de lá, poderemos nos deparar com alguma situação embaraçosa como dessa frase que a seguir enumeraremos e, certamente, levaremos um pouco disso para o lado do humor, quase clássico:

– Maria, por obséquio, pegue esse “fato de banho” e entregue a essa “rapariga” que está perto desse “puto” de camisa rubra e “barbatanas” encarnadas nessa “bicha” da esquerda.

Será que você entenderia que determinado luso estaria falando com a esposa dele e se referindo a uma mulher jovem que receberia um maiô e que estava perto de um garoto de mais ou menos 10 anos, portando nadadeiras numa fila de um evento esportivo?

– Acho que num primeiro momento essa frase soaria meio estranho. Ou não?!