QUERMESSE

Será que ainda existe? Sim, agora me lembro de que na capela aqui perto de onde moro há uma quermesse sempre no mês de junho. Nunca fui, mas vi umas barracas sendo montadas.

Eu devia ter uns dezoito anos quando ia à quermesse aos sábados à noite e domingos à tarde no terreno onde hoje está da Igreja do Butantã. Não é preciso falar do quentão, pipoca, vinho quente, amendoim, cuscuz, churrasco de linguiça e doces diversos, como maria mole, cocada, abóbora (deu água na boca), mamão, amendoim doce, maçã do amor (sem graça) etc.

Puxa! Só falei de comilanças, mas vamos às diversões como o tiro à prenda com espingarda de pressão com uma rolha chanfrada na ponta (nunca se acertava o tiro que sempre ia para os lados), argolas na garrafa, pescaria, etc. Mas o que mais atraía a atenção era o porquinho da Índia ou o coelho que procurava a casinha. Aí era a gritaria da torcida que assoviava ou ficava chiando para o animal sair do lugar e certamente procurar uma casinha que fosse a sua.

O pessoal ia à quermesse só para comer ou ganhar um presentinho? Claro que não, o objetivo maior era a paquera através do correio do amor, da oferta de uma música e que tempo de música boa na era Elvis, Beatles, Nat King Cole, Paul Anka,Trio Los Panchos, Nelson Gonçalves, Carlos Gonzaga (cantava as canções do Paul Anka traduzidas por Fred Jorge) e tantos outros e grandes orquestras, tudo que hoje podem ser apreciados no Youtube. Eu me deleito no Youtube com essas músicas. Recordar é viver!

Numa noite de sábado eu estava com meus amigos, “mui amigos”, quando o autofalante anuncia que uma garota morena de tal forma vestida, oferecia aquela canção a um rapaz moreno de tal forma vestido. Eu me identifiquei com aquela descrição e antes que eu procurasse localizar a garota, os meus amigos “mui amigos”, dizem: É você e a garota é aquela ali. Eu, muito ingênuo, dirijo-me à garota todo contente e logo fui agradecendo: - Meu nome é Santo e obrigado pela música. Qual o seu nome?

-Eu? Eu não ofereci música alguma.

Olhei para o grupo e todos estavam rachando o bico. Acho que eu estava roxo e com o sangue fervendo pelo trote sofrido, foi quando falei:

- Desculpas, foi um trote daqueles que estão rindo. Por favor, não me dispense, aceite ir tomar um quentão comigo, afinal eles a usaram também e é uma forma de a gente dar um tapa com luva de pelica. Vamos?

- Vamos, disse ela, mas é só isso. Viu?

Ela estava acompanhada com uma criança que comeu uma cocada e nós tomamos um quentão que não deixou saudade. Era a primeira vez que eu via aquela garota que não quis dizer o nome nem onde morava. No fundo acho que ela sentiu pena de mim e eu agradeci muito, mas muito mesmo, por ela ter aceitado o convite.

Voltei para o grupo com um sorriso (forçado) que molhou as orelhas e agradeci o trote. Afinal eu tinha marcado um próximo encontro para o domingo à tarde no cinema. Foi o que eu disse e calei o riso sarcástico do grupo. No domingo à tarde fui ao cinema sozinho. Rsrsrs.

Depois disso eu a vi uma única vez na Rua Theodoro Sampaio e eu estava dentro de um ônibus.

Santo Bronzato em 04 de junho de 2.016.

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 04/06/2016
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