Algumas mulheres não se cansam de arrumar sarna para se coçar. Como se a vida masculina não fosse difícil somente por ter que trabalhar, torcer  para um time de futebol e pagar as contas, surgem elas com questões paralelas a nos desgastar tirando completamente a concentração das questões fundamentais como lembrar de tirar a cerveja do freezer.

E foi em meio a um jogo tenso, entre Flamengo e Botafogo, pela final do Carioca sendo Antônio um botafoguense fanático, que Laura veio com aquela questão. Insegura, sem saber se era suficientemente bonita, mesmo tendo passado por uma revisão aos quarenta colocando silicones nos seios e puxando discretamente as faces, vivia incomodada por que o marido gostava muito dos romances de Clarice Lispector.

Entrou ela numa neura para saber se o marido a apreciava mais ou se amava à Clarice, mesmo a autora já estando morta e enterrada.

O Flamengo atacava aos 38 do segundo tempo querendo empatar o jogo. O Botafogo já estava com a taça na mão, quando Laura encosta-se no sofá. Antônio na ponta do mesmo, quase flutuando no ar e a ponto de chutar a mesinha de centro para o espaço sideral. A adrenalina estava alta e ela solta um direto:

- Totô, o que você prefere mais: uma mulher bonita ou inteligente?

Ele, em agonia, sem pensar direito, querendo se livrar da pergunta enquanto o Flamengo ameaçadoramente rondava a área, chutou para o espaço o que lhe veio na cabeça:

- Nenhuma dessas, prefiro você!