AMOR AO PRIMEIRO AMASSADO

Funilaria do Botuca. Auréola, moça distinta, advogada, chega com o seu veículo Corola, com um amassado na traseira.

Valdemar chega também na mesma funilaria com o seu veículo Santana, com um amassado na traseira também.

Botuca vai atender a moça, que obviamente, chegou primeiro.

-Botuca, meu velho.

Cumprimenta Valdemar. Botuca retribui. A moça nem olha para ele, parece observar o amassado em seu carro.

Valdemar pede a Botuca pra ver o amassado em seu carro. Botuca, responde, polidamente, que a moça chegou primeiro, então a preferencia é dela.

-Mas, Botuca, onde está a nossa amizade?! Estudamos juntos na quinta série!!

O velho amigo Botuca dá um sorrisinho Colgate. Mas a moça Auréola, fala:

-O meu amassado primeiro.

Valdemar arregala dois olhos em direção à moça:

-Minha querida manceba, meu amassado requer mais atenção. –diz Valdemar entredentes.

-Manceba??? E olhe aqui, raparigo. –fala a moça com certo nervosismo, -O meu amassado é mais importante.

-O meu amassado é mais importante.

-O meu!!

-O meu!!!

Botuca tem que intervir:

-Gente, vamos resolver isso numa boa.

-Botuca, -apela Valdemar, -Depois de tantos anos, você vai desprezar meu amassado??!!

-Valdemar, não é isso. Mas as damas primeiro. Quer dizer, o amassado das damas primeiro.

-Nossa, Botuca, depois de tantos anos de amizade, o meu amassado perdeu a importância?!!

-Valdemar, não é isso.

Era tarde, Valdemar entrou em seu carro, deu partida, e foi embora.

Na cidade havia uma ponte, era quase pôr do sol. Um veículo Santana estacionado poucos metros a frente da ponte. Valdemar contempla o sol se pondo num avermelhado exuberante. Um por do sol dos quais poucas vezes se viu na cidade. Mas Valdemar é todo amassado, quer dizer, seu pensamento voltado para o amassado do carro.

Seu celular toca. Sem muita decisão apanha o celular e verifica o número. Não faz idéia de quem seja, é um número desconhecido para ele. Resolve atender. Uma voz feminina:

-Valdemar?

-Sim.

-Como que está o teu amassado?

-Ann?

-Sou Auréola, a moça do amassado. Lembra? Funilaria do Botuca.

Valdemar não disse nada. A moça continuou:

-Achei injusto não te dar uma satisfação. Fui sem educação. Não sabia que o teu amassado era mais importante que o meu.

-É o seu primeiro amassado? –pergunta Valdemar.

-Sim. –responde Auréola, depois conclui, –Você deve ter mais experiência em amassados que eu. Desculpe, fui uma egoísta, pensei somente no meu amassado.

-Deixa pra lá.

-Não posso fazer isso. Eu percebi que o teu amassado era maior. Eu sou sócia de uma pizzaria. Hoje tem rodízio. Você tá convidado, é por minha conta.

-Vai ter rodízio de amassados? –riu ele.

Ela também riu.

Valdemar foi até a pizzaria. Depois da pizza, os olhos de um amassado encontrou o outro. Houve uma sintonia. “No seu amassado ou no meu?. Passaram a noite juntos.

Duas semanas depois:

-Valdemar, não olhe mais na minha cara!

-Que que eu fiz?

-Vi que você estava olhando para outro amassado. Pensa que não vi!

-Au (Vademar, chamava carinhosamente Auréola de “Au”). Au, o amassado mais importante na minha vida é o seu! Au, não faz isso!

O que começou num amassado, terminou em outro amassado.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 24/05/2016
Código do texto: T5645840
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