O ZIPER EMPERRADO DA DIABINHA

Tempo de namoro ainda, Nabuco e Eulália foram a uma festa à fantasia que acontecia todo ano no clube da pequena cidade Icutiara. Nabuco parecia um colegial aquele tempo. Alto, galã, cabelos com brilhantina, peito estufado. Eulália tinha orgulho dele. Um mancebão. Nabuco era um homem delicado, fino, respeitava as mulheres como poucos.

Nabuco tinha ido à festa fantasiado de Adão. Eulália foi fantasiada de anjo. E era realmente um anjo. Com uma pele branquinha, tão sublime. Dava a impressão que a qualquer momento ia sair flutuando de tão suave que era.

A festa estava muito badalada. Todos seus amigos estavam ali.

-Olha lá o Nino de Homem das Cavernas. Como a fantasia lhe caiu bem.

Nino era um antigo patrão de Nabuco, dono de um posto de gasolina. Ranzinza, duro com seus funcionários. Agora Nabuco tinha o prazer de trabalhar no escritório de contabilidade do seu Honório. Aliás seo Honório estava presente também, fantasiado de queijo. Um queijo ranço pela idade. Olha lá o Pereira, fantasiado de Rambo, com aquela fita vermelha envolta na cabeça, o barrigão com aquele umbigo estufado. Não se sabe quem foi o engraçadinho que conseguiu apanhar a sua metralhadora de plástico e amarrar no ventilador de teto.

Nabuco afastou-se para ir até o banheiro. Pelo caminho encontrou o Silva, o gerente de análise do banco. Trocaram algumas palavras. Cumprimentou o Cerqueira, do tempo da escola. Ele que jurou que um dia conversara com um alienígena. Se tornou um dos melhores alfaiates da cidade.

-Ei, psiu!

Em meio a tanta gente Nabuco ficou procurando quem teria assobiado para ele. Aliás, se teria sido para ele.

-Ei, fisssss! Psiu!

Indeciso de que lado teria vindo o chamado, ficou procurando.

-Aqui.

Encontrou quem o estaria chamando. Uma diabinha. Toda de vermelho, com dois chifrinhos proeminentes, um rabo grande. Neste momento ela segurava o rabo, fazendo rodar a ponta que tinha uma seta.

-Você pode me ajudar com o zíper?

-Bem...

-É só um minuto. Esse zíper está me deixando doida.

Nabuco olhou de lado. Certificou-se de que não estava sendo notado ou observado. Se aproximou dela. Ela indicou o zíper nas costas. A diabinha tinha acabado de ir ao banheiro, e o zíper emperrara. Nabuco, então, começou a forçar o zíper.

-Pode pôr mais força.

Ele começou a fazer movimentos para tentar desemperrar o zíper.

Eulália viu.

-Maldito, Nabuco.

Foi caminhando com uma fúria estampada nas faces que deixaria um batalhão apavorado.

-O que está tentando fazer!?

Nabuco ficou vermelho.

-Eu...

-Ele estava apenas...

-Sua vadia.

Eulália grudou a diabinha pelos chifres. Nabuco tentando separar as duas. Eulália lascou um tapa nela, que se esquivou e acertou bem na cara de Nabuco.

-Meu Nabuquinho! Machucou?

Aproveitando-se do instante de distração, a diabinha tentou empreender fuga. Eulália não deixou por menos. Correu atrás. A agarrou pelo rabo, fazendo a diabinha desequilibrar e cair. Eulália pulou em cima da coisa-ruim e deu-lhe uma bofetada na cara que desprendeu um dos chifres e o chifre decolou, indo a cravar na cartola de um camarada fantasiado de mágico. Eulália mandou outra bofetada. Outro chifre voou e passou muito próximo de um casal de cisnes sentados num banco, próximo da piscina.

-O que foi aquilo, querido?

-Sei lá.

Com muito custo Nabuco e amigos conseguiram conter Eulália e a diabinha.

Eulália estava orgulhosa. Venceu a luta contra o mal.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 16/05/2016
Código do texto: T5637588
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