DOUTOR JOÃO EM: A “NEURA” DO “NEURO”
Há muitos anos circulo ali naquele ambulatório aonde diariamente observo a lida do meu amigo, aquele de quem sempre conto por aqui, o doutor João.
Naquele loucura neurótica de atendimento, as de tantas “neuras”, como se costuma denominar a "abreviação" de algumas aflições da logística algo neurótica do dia- a -dia de todos nós,muitos fatos engraçados ali acontecem, e eu os costumo registrar antes que eles fujam da minha lembrança.
Dada a vitalidade mutante das línguas, esclareço que, da mesma forma que existe o português, o inglês, o politiquês, o “internetquês”, enfim, uma infinidade de linguagens linguísticas modernas, oficiais ou não, também existe um certo “mediquês” meio abreviado entre os profissionais da saúde, pequenos apelidos da extensa farmacopéia moderna, bem como de nomes comerciais duma infinidade de medicamentos, de seus sais genéricos, de exames complementares, de especialidades e especialistas, que carinhosamente circulam entre os profissionais para agilizar o atendimento.
Vou exemplificar:
Ao invés de se dizer a longa frase “No hospital, o clínico diagnosticou uma septicemia que foi tratada com tazocin”, os profissionais normalmente abreviam para : A sepses foi tratada com Tazo.
Ou então:
“O gastroenterologista pediu uma endoscopia com colonoscopia que identificaram uma infecção que foi tratada com metronidazol , e o nefrologista retirou o Diclofenaco da prescrição”.
Abreviação: O “gastro” pediu uma “colono com endo” e prescreveu “Metro” e o “Nefro” retirou o “diclo”.
Ou ainda:
"Pediu um Nutri e um Psico? tradução: "encaminhou para um nutricionista e um psicólogo?"
“ A hipertensão foi controlada com besilato de amlodipino”.
Abreviação: O aumento da PA foi controlado com amlo.
Provavelmente um Neuro (neurologista) cansado de a todo momento repetir uma prescrição de “ hemitartarato de rivastigmina”, sem perceber, no decorrer do tempo, já chamaria a droga de um “ Hemi de Riva ”, ou simplesmente de " Riva", assim como o Cardio(cardiologista) faz um “ECO” (ecodopplercardiograma) e também trata o choque com a carinhosa “Dobuta”, ao invés de chamá-la de ”cloridrato de Dobutamina”.
Às vezes me pergunto quem teria tanta imaginação para criar nomes científicos tão, digamos, neuroticamente esdrúxulos...
Nem vou falar do nomes das bactérias...
Que neura!
Então, para aliviar as tantas neuras, assim vai, a surgir um vocabulário típico dos profissionais que pega como gripe, e lógico, pega nos pacientes também.
Toda essa explanação para explicar a “neura” do doutor João em se ver em “palpos de aranha” ali sozinho, com tantos pacientes, tantas queixas, tantas receitas, tantas regras oficiosas, tantos medicamentos, tantos exames, e tão pouco tempo para ouvir e explicar tudo direitinho, a despeito de eu sempre o ajudar nas traduções linguísticas que também chegam ali, frente às tantas diversidades culturais de seus pacientes.
E dia desses a primeira consulta começou assim:
"Bom dia dona Maria, o que temos para hoje?".
“Doutor, quero só que me encaminhe para a NEURA.”
(verídico)
Notei que nem precisaria.
Doutor João já atuaria ali mesmo, douto na matéria, um especialíssimo especialista" Neuro em Neuras", sem nenhum questionamento, tudo bem ao vivo, a abreviar as neuras das dores em todas as línguas!