-ACHO POUCO PROVÁVEL...

Ainda há pouco me procurou para conversar.

Seu ar era de inquietação, e precisava desabafar.

Dizia-me que ele, seu marido há tantos anos, já não era mais o mesmo.

Parecia indiferente, cabisbaixo, irritado, pensativo, nervoso, meio que “empurrando a vida com a barriga”.Aliás um barrigão tão grande que também a preocupava. Poderia enfartar..."Deve ser depressão"-arriscou- o que aumentava o tal do risco.

Sabia que ele sempre tivera muitos amigos, mas ultimamente até deles havia se afastado.

A única amiga com quem sempre conversava, que aliás o iluminava, era uma "mocinha” lá do trabalho, quase uma filha, talvez sócia do “negócio”, que sempre lhe telefonava, mandava mails, mensagens pelo celular, enfim, peocupadíssima em resolver todos os problemas da empresa.

-Problemas demais, ponderou certa vez.

Mas agora a coisa estava feia.Tinha tentado se matar.Nada sério.Engoliu uns calmantes a mais com um gole de vodka, nada que um sorinho no pronto -socorro e um bom sono não resolvesse.

Motivo? A tal da sócia exemplar havia morrido. De repente.Ninguém sabia o motivo.

Mas no velório, algo estranho aconteceu.

-Sabe, amiga, nos atrasamos para o evento, e enquanto não chegávamos nada se resolvia.

A cerimônia se atrasou conosco.Quando lá chegamos, todos os olhares se direcionavam para ele!... “o meu” marido. E depois para mim!

-Sentimos muito, senhores!

Todos lhe deram os cumprimentos, os pêsames...e ela ali, sem entender muito bem o que ocorria.

" Puxa,deviam ser grandes sócios mesmo"- pensou. E o que seria da empresa sem ela?

Mas agora, depois de quase um mês, tem a incômoda e nítida impressão de que ele... mais parecia o viúvo.

-Não sei não...será?-perguntou-me.

Dessa vez , fui eu quem ficou alí, sem saber o que lhe dizer...