UMA TELEVISÃO QUE ROLA
Dias daqueles Jorjão com sua lambreta e a Buzerfina foram pegar uma televisão que haviam levado para o conserto. Lá vinha Jorjão guiando a lambreta e na garupa Buzerfina segurando a televisão na cabeça. Deram de cara com uma ribanceria. Jorjão acelerou a lambreta, acelerou até onde havia o que acelerar. A lambreta chegou no meio da rampa e pifou, Jorjão tentou segurar a lambreta no breque, mas tombou. Buzerfina rolou, a televisão rolou a perambeira e caiu lá embaixo.
-Jorjãozinho, meu Mumú, olha só onde foi parar a nossa televisão.
-Mantenha calma, vamos recuperá-la.
-Eu quero assistir a novela ainda hoje.
Mandava sombrinhada na cabeça de Jorjão.
Jorjão desceu a perambeira, perguntou para uma senhora que morava numa casa ali próxima se não havia visto uma televisão passando pelas imediações. Foi difícil, mas com muita procura conseguiu encontrar a televisão. Voltava ele com a televisão. Subia a íngrime perambeira, quando já faltando coisa pouca para vencê-la, pisou em falso numa toceira de mato e tornou a cair, soltando a televisão que rolou de volta a perambeira e desapareceu no meio do mato.
Até que Jorjão venceu mais uma vez e trouxe a televisão para casa.
Jorjão resolveu naquele fim de semana passar no campo. Buzerfina concordou. Não há nada melhor que o campo. Arrumaram as coisas. As coisas de comer. Jorjão olhou para aquela montanha:
-O que foi amorzinho? Comer é muito importante, querido.
-É que a lambreta...
-Não venha com desculpas.
A lambreta com Jorjão no comando, Buzerfina na garupa, e uma montanha de coisas amarradas na cestinha seguiu para o campo. Jorjão encontrava uma certa dificuldade em guiá-la. Ora a lambreta ia prum lado, ora a lambreta ia pro outro. Havia trechos que a lambreta pendia muito, Buzerfina agarrava com força nas costas de Jorjão. A roda da lambreta até rodava torta neste momento. Algum veículo que encontrava aquilo pela frente chegava até a diminuir a velocidade. A lambreta passava dançando ameaçadora próxima do carro e sumia pela estrada.
Chegaram.
Era um descampado verde, uma ampla escarpada, uma pequena elevação mais à frente, um pequeno amontoado de árvores ao longe. O vento era fresco vindo daquele lado.
-Perfeito. -disse Buzerfina, respirando fundo.
Montaram uma mesa bem no meio do descampado verde, aproveitando a sombra de um ipê.
-Como me sinto à vontade no campo. -disse a Buzerfina.
-Eu também.
A mesa montada.
Quando de repente, aparece um boi bravo.
-Amorzinho, o que é aquilo?
-Minha Bubú, é um boi.
O boi bufava e arrancava terra do chão com suas patas dianteiras.
-O que ele está fazendo, querido?
-Deve estar cavando um abrigo no solo.
-Será, querido? Não sei não. Quando eles fazem isso é que estão aborrecidos.
-Sem crise. Esses animais têm umas manias estranhas.
Foi menos de uns cinco minutos. O boi partiu em direção da mesa, correndo como um doido. Bufando e babando.
-Querido, acho que o bicho não está amistoso, não.
-Calma, querida.
-Mas ele vem vindo para cá.
Jorjão correu, Buzerfina tentou correr, enroscou o pé na lona que estenderam no chão e caiu. O boi mandou a cabeçada, a mesa foi para os ares. Um monte de linguiça enroscou no chifre do boi. E o boi bravo continuava tentando chifrar o que tinha caído no chão.
-O suflê! -gritou Buzerfina. -Jorjãozinho, meu Mumú, onde você está? Detenha este animal, morzinhô!
O boi furioso bufava em cima do quindim. Perceberam agora que no outro chifre o boi tinha preso também o pacote de ravioli.
Depois, pouco satisfeito com o que tinha feito, partiu pra cima da lambreta do Jorjão. Ela já tombou na primeira chifrada. A roda traseira ficou rodando e o boi bufava e chifrava a roda, assim a roda rodava mais. O boi parecia não gostar daquilo, de ver a roda rodando, bufava e chifrava mais.
De cima de uma árvore, Jorjão olhava tudo aquilo.
-Mumú, a nossa lambreta!
-Calma, Bubú, depois o boi cansa e vai embora.
Foram conseguir sair dali duas horas depois.