COMO ACREDITAR NOS CONTOS DE FADAS?
Os contos de fadas em sua origem – a bem dizer, em sua fase oral – não eram muito aconselháveis para crianças. Eram narrativas populares ridicularizando a nobreza opressora. Um tipo de vingança no plano do imaginário. Quando Perrault – que era chegado à nobreza – recolheu e publicou essas narrativas, eliminou a parte das sacanagens e transformou-as em histórias voltadas ao público infantil.
Hoje, as crianças são um pouco diferentes daquela época e torna-se complicada a tentativa de narrar-lhes contos de fadas: era uma vez uma galinha (aí, tem de explicar que galinha é a mãe do frango, aquele negócio que dizem colocar nos croquetes e pastéis) que botava ovos de ouro. – E por que já não botava dólar? – pergunta o pequeno.
É mais fácil comentar que o dólar na época estava em baixa no mercado.
Dá de entender que Ali Babá foi um ladrão que se deu bem (isso é normal), mas como era o mocinho da história se não era do lado dos americanos? Bem, digamos que era um americano que fazia o papel de muçulmano.
E o patinho feio? Delimite o grau de feiúra – dirá o jovem. Mais feio do que o ET e Rodolfo juntos? Não, na realidade o patinho nem era feio. Ele assim se achava, de acordo com os parâmetros de seu meio. Questão de baixa auto-estima, entende? E ele não procurou um psicoterapeuta?
Difícil também é explicar por que a Bela Adormecida entrou em estado de coma por tanto tempo. Seria choque anafilático? Contaminação hospitalar? Ou overdose de cocaína? Caso de risinhos disfarçados da criança é contar que a Branca de Neve vivia inocentemente, numa boa, com sete velhinhos que nunca viam mulher. Seria falta de Viagra? Ou porque eles eram pobres; se tivessem uma BMW queria ver. E como explicar por que Chapeuzinho Vermelho não processava o lobo por assédio sexual? E será que o lobo tinha mesmo tudo grande? Vovozinha, pra que esta barraca tããão grande? É, amigos! É mais fácil ligar a TV e assistir ao Harry Potter.