AMADO BATISTA NA CIDADE DE PINHÃO-SE
-Pai, eu quero um vestido novo! – gritou a menina.
-O que? – retrucou o pai contrariado com a crise financeira que abalou sua família.
-Pai, eu quero um vestido de marca boa. Eu não quero vestido de chita –continuou pedindo a jovem não percebendo a cara rude do genitor.
-Por que um vestido novo, agora?
-Para ver show do cantor romântico do cantor Amado Batista.
-Onde? – argumentou o pai.
-Aqui na cidade de Pinhão. Fã do cantor o homem esqueceu a crise.
-Que legal! Tome o dinheiro e traga roupas para toda família.
Nos bares, nas barbearias, escolas, botequins, bregas, furnas, cafuas e até nas igrejas, o assunto era o mesmo: Amada Batista vai cantar na cidade de Pinhão.
-Deve está falido. – argumentou um engraçado para desagrado de todas as pessoas presentes na feira da urbe.
-Repita para apanhar agora na cara. – berrou um brutamonte para o zombeteiro.
-Não! Não! Eu não disse nada! Salientou o gaiato saindo apressado para não tomar uma coça.
“Seu Toinho” dono da barbearia mais antiga da cidade faturou alto com o anúncio do show do cantor de brega.
-Eu quero um corte de cabelo parecido com o de Amado Batista. – pediu o sertanejo radiante.
Um aproveitador forasteiro abriu uma loja de CD pra revender músicas de Amado Batista e ali se consagrou financeiramente. Na cidade e nos povoados Rajas, Minuanos, Beija-Flor e Macacos foram construídos hotéis, pousadas dormitórios e pensões para acomodarem os visitantes. O Prefeito da época deixou a cidade “um brinco”. Mandou iluminar tudo que antes vivia em plena escuridão. Tapou os buracos das ruas e na Praça Central da urbe, podou as árvores, colocou bancos novos e ainda inaugurou um coreto.
Um dia antes da chegada do astro, o doutor Almir Santana foi até à cidade para realizar uma palestra sobre a AIDS e distribuiu camisinhas para os jovens:
Sexo sem camisinha não vale. – alertou o médico.
Na igreja, padre pediu proteção a São José (Padroeiro da cidade), para que a festa fosse realizada tranquilamente;
-Que São José proteja nossa população!
No dia do show a cidade de Pinhão tornou-se pequena. Eram pessoas das cidades sergipanas de Frei Paulo, Carira, Pedra Mole, Itabaiana, Simão Dias, São Domingo, Lagarto, Campo do Brito e até de Aracaju. Das cidades baianas chegaram turistas de Cícero Dantas, Alagoinhas, Paripiranga, Euclides da Cunha e até de Salvador. De Alagoas chegaram pessoas de Penedo, Palmeiras dos Índios Piranhas, Pão de Açúcar, Igreja Nova e também de Maceió.
A segurança era impecável. Dizem que até a FORÇA NACIONAL compareceu para combater a malandragem.
Quando Amado Batista começou o show o povo da cidade de Pinhão delirou. Moças esticavam as cabeças para ver o artista nacional. Outras mais alvoroçadas agarravam seus parceiros para dançar romanticamente em plena praça. Os homens enchiam a cara de cachaça. Os fãs cantavam com Amado Batista os sucessos como: “Princesa”, “Secretária” e outros. Os descasados pediam piedosamente a música “Meu Ex - Amor”.
O show terminou madrugada e foi um quiproquó danado, na saída do artista. A população vibrou:
Viva Amado Batista, o Rei do Brega!
Outro ainda berrou:
Amado Batista, o Rei da cidade do Pinhão!
E velho político que se encontrava no show apelou:
Amado Batista, o futuro prefeito da cidade do Pinhão!
O gestor que estava ao seu lado não gostou:
-Traidor! – resmungou o prefeito.
Naquela madrugada mulheres pegaram autógrafos. Outras mais afoitas beijaram o cantor e no meio daquele escarcéu, vi também naquela terra de cabra macho, brutamontes às escondidas, que reivindicaram autógrafos do cantor romântico Amado Batista.