PIADAS NA HORA DA MORTE

 


 

I.


Essa eu ouvi anteontem. O velório foi feito na própria casa do defunto, no estilo antigo. Ao redor do caixão algumas pessoas tristes ou até sinceramente chorando. O resto estava distribuído em pequenos bolos de pessoas, respeitosamente tristes ou ouvindo alguém contar piadas. De lá para cá um garoto, de 12 ou 13 anos, andava impaciente com sua roupa de ver morto ou Deus. Então se aproximou de uma mulher que estava ancorada no caixão, que de tão triste nem mais chorava. Era a própria viúva. Então o menino lhe tocou e falou:
_ Ei Dona Muié!
_ Oi! Fala menino!
_ A Senhora pode me dizer a senha do WiFi?
Alguém se indignou com aquilo:
_ Menino, respeita o morto!
_ É tudo emendado ou separado?
(...)


 
II.
 

Essa é fraquinha, mas fui eu quem inventou agora. O amigo do defunto quis consolar a viúva com algumas palavras edificantes. Então disse-lhe ao pé do caixão, fingindo comoção:
_ Dona Geralda, pense assim: ele agora deve estar bem melhor do que quando estava vivo com a Senhora!
(...)

III.
 

Essa aconteceu de verdade.
Pouco antes do caixão ser tocado para o túmulo, já na capela do cemitério, o pastor (a viúva era evangélica apesar do falecido ser uma mistura de católico e ateu) resolveu pronunciar alguma coisa para bem encaminhar aquela alma e dar algum alento à viúva, que a bem da verdade não demonstrava tristeza nem estar com o coração constrito. Então falou, além de outras coisas:
_ Não fique triste Dona Geralda, já já a senhora vai fazer companhia com seu Joaquim lá eternidade do paraíso...
Dona Geralda arregalou os olhos, não gostando muito da ideia. E algúem, que conhecia bem o casal quando o marido ainda estava vivo, sabia que a mulher era uma megera que por trinta anos torturou o doce e pacífico Joaquim. Então disse mais para si mesmo do que para a involuntária plateia:
_ Como se não bastasse o inferno de ficar junto com a megara aqui na terra, agora o coitado do Joaquim vai viver junto com ela para sempre lá no paraíso. Isso é que é inferno!