Por uma pitada de humor
Hoje não foi um dia melhor que ontem. Nem era para ser: acordei atrasado, tomei meu banho e bem no meio, a água acabou. Pensei em voltar para a cama e largar tudo: trabalho, filhos, gato e cachorro. Mas, sou brasileiro e não desisto. Sai do banho, troquei-me e bem na ora de colocar a cueca, um furo bem lá me despertou para a raiva; nada estava dando certo. Ligo a Tv e dou de cara com Ana Maria Braga, pqp!, pensei em largar tudo: trabalho, filhos, gato, cachorro e papagaio. Mas não, sou brasileiro e não desisto. Troquei a cueca e o canal. A cueca caiu bem, mas o canal me presenteou com tanta porcaria que desliguei a TV. Tudo bem, tudo certo. Antes de sair tenho por hábito tomar um gole de café, nunca falhou. Mas hoje, justo hoje que tinha um encontro com a mulher mais linda, o café cai na minha camisa mais linda e que passei com um produto especial. Pensei em largar tudo: trabalho, filhos, cachorro, gato, papagaio e um ratinho que crio há três anos. Mas não, sou brasileiro e não desisto. Troquei de camisa. Para evitar mais percalços, aliás, tantos assim numa só manhã, já me deixava com medo de sair de casa, resolvi não mexer em mais nada. Quando já fechava a porta, escuto no quarto do meninos a tv ligada. Vou desliga-la, pensei, mas, não deverei ter ido: passava a notícia que um grupo de procuradores pedira a prisão de um ex-presidente. Não achei isso estranho, afinal, querem acabar com a corrupção. Querem que o país se endireite, embora, no próprio estado, o governo é suspeito de superfaturamento no metrô, no desvio de recursos na merenda escolar e em tantas outras licitações que eu cansaria, você, caro leitor. Resolvi ver a matéria, afinal, preciso me informar, pensei, então sentei. O espetáculo, digo, a coletiva estava pronta. Era coisa importante, era muito importante eu ver, também quero um país melhor e nada melhor que ouvir homens cultos. Então acendo um cigarro; presto melhor atenção com um cigarro. Eu pensei: hoje vai ser um dia maravilhoso, pensei é sempre bom ouvir pessoas cultas. Mas eu deveria ter voltado para a cama. Deveria largar tudo. Ouço um deles apresentar a peça e os argumentos que justificassem aquele pedido de prisão. Tudo perfeito, tudo certo, tudo lindo, não fosse a fala de Zaratustra e a amizade de Marx e Hegel. Detalhe: Hegel morreu em 1831, Marx nasceu em 1818, ou seja, quando Hegel morreu, Marx tinha 13 anos, pouco provável que tenham sido amigos. Não vou para a cama, pularei a janela, pensei.