É FEIO MAS ALIVIA

O cara estava num grupo de pessoas. De repente, resolveu expelir o acúmulo de gases no tubo digestivo. Em termos mais objetivos: soltou um pum! O pessoal olhou-o espantado. Foi aí que ele falou: é feio mas alivia!

As pessoas costumam fingir que certas coisas não existem. As moças normalmente fingem que não têm necessidades fisiológicas. O garoto tem de fingir que a careca daquele amigo do pai não existe. Que o bumbum da tia Plácida não é enorme. Quando a tia Plácida vai visitá-los e fica entalada na poltrona da sala, a mãe sempre comenta: ai, como esta poltrona é estreita. A família finge que o primo de modos delicados, que só fala no amigo Carlão, é apenas um rapaz sensível.

A mulher vê homens entrando e saindo da casa da vizinha o dia todo, mas é obrigada a acreditar quando ela comenta que são amigos. O funcionário finge acreditar que seu superior hierárquico está construindo uma mansão em região nobre com o parco salário que recebe. O policial nem imagina que o poderoso empresário encontra-se por trás de algumas falcatruas. Prefere fingir que o grande responsável é o zé-ninguém preso na semana passada.

O anfitrião, na verdade, nem nota que o filhinho da visita derrubou molho no tapete persa. Mesmo assim, tira disfarçadamente o vaso de porcelana do itinerário do garoto. O adolescente, é claro, nunca notou que aquela anacondazinha, colega de sala, tem se insinuado muito pra ele, e coincidentemente sempre aparece nos locais em que se encontra.

Será que o cara do pum está certo? Notar ou dizer certas coisas é feio mas alivia? Você tem coragem de dizer que o seu chefe tem mau hálito? Que a mulher do vizinho ciumento é gostosa? Que o titio rico e sem herdeiros é um miserável?

Pois é, as coisas não parecem como são. Dá impressão de que o Criador fez algumas coisas que o homem tem de esconder. Se você não concorda com nada disso, finja que não leu esta crônica.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 08/07/2007
Código do texto: T557003
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