Uma Gafe Gigantesca
Arraigados a estereótipos sociais, com exigência de padrões imutáveis, muitas vezes somos levados a, involuntariamente, cometermos gafes imperdoáveis. Ainda morando numa pequena cidade ribeirinha do São Francisco, de reduzido convívio social, qualquer motivo para uma confraternização com amigos era sempre convidativo. Num belo domingo ensolarado, naquele calorão sertanejo, fomos a um barzinho da cidade, apenas com a intenção de “jogar conversa fora”, com os colegas de trabalho, naturalmente ao sabor de uma cervejinha bem gelada e petiscos da região. Um dos colegas estava recebendo a visita de familiares e ali fez aquela apresentação de praxe, de modo rápido, que logo a seguir a gente nem se lembra “quem é quem”. Um grupo relativamente grande, composto de jovens e adultos, ocupando as mesas enfileiradas. Ali, cada um acompanhado de sua família, nada mais natural que casais estivessem próximos, assim como os pais em relação aos filhos. Uma jovem muita simpática liderava a conversa, sempre alegre e contando “causos”, ladeada por um cidadão também simpático, sempre aplaudindo aquela jovem. Um dos colegas mais próximos daquela dupla, naturalmente levado pela aparente diferença de idade, assim se dirigiu à moça: “você é boa contadora de história. Aprendeu com seu pai?” E apontou para o cidadão que a ladeava. E a moça, desacanhadamente, respondeu: “Ele não é meu pai, é meu noivo”. E o pobre perguntador, num gesto de “cala-te boca”, botou a viola no saco, mesmo sem ter viola nem saco. E, daquele dia em diante, nada mais perguntou a ninguém, limitando-se apenas a responder o que lhe perguntam. Reconheceu que a sua gafe foi realmente gigantesca, num momento em que seu objetivo era apenas refrescar a cuca, naquele aprazível barzinho do interior.