CHIFRE PARA A SOGRA
Nabuco entrou todo eufórico na casa de dona Crepúscula. Eulália chegou atrás.
-Dona Crepúscula, a senhora não morre mais! –disse ele.
-Eulália, minha filha, o que deu em Nabuco!? Por que está feliz dessa maneira? Não gosto quando esse animal ordinário chega desse jeito.
-Dona Crepúscula. Eu amo a senhora.
-Nabuco, você está doente.
-Não estou, não, minha sogrinha do coração.
Mostrou um embrulho para a velha.
-Para a senhora.
Dona Crepúscula correu se proteger atrás de uma mobília:
-Minha filha, deve ser uma bomba!
-Que é isso, dona Crepúscula. É um presente do meu coração. Corrigindo: do fundo do meu coração. Pode pegar sem medo.
-Minha filha, olhe bem o que tem nesta caixa. Deve ser uma serpente venenosa.
-Minha sogrinha, eu jamais ia fazer uma coisa dessas. Pode pegar o pacote e abrir.
Eulália convenceu a mãe de que podia abrir o embrulho que não havia surpresa nenhuma.
Dona Crepúscula pegou o pacote das mãos de Nabuco.
-Filha, se acontecer alguma coisa comigo, o remorso vai te corroer até a morte!
-Mãe! Confie em mim. Pode pegar. Não tenha medo.
Dona Crepúscula estudou bem aquele pacote, olhou em volta, chachoalhou.
-É uma coisa que a senhora esperava ganhar faz tempo. –adiantou Nabuco.
Ela apenas meteu-lhe uma olhadona que o varreu de cima a baixo. Com cuidado foi se livrando dos barbantes e removendo o papel de presente com o qual estava envolto a caixa. Uma caixa prateada, do comprimento de um guarda-chuva. Quando dona Crepúscula abriu a tampa quase teve uma parada cardio-respiratória.
-Minha filha, o que é isso!?
Apareceram dois chifres de boi enormes. Envernizados e reluzentes.
-Minha sogrinha, eu nunca tinha dado nada para a senhora. A senhora pode falar para suas amigas que o seu genro preferido lhe deu um par de chifres... Ah, se não for seu número pode devolver.
-Eulália, tantos homens bons te paqueraram. Tantos homens bons, teve até um advogado. Hoje brilhante advogado. E foi se engraçar com este canalha, este porco moribundo. Minha filha, me diz, o que você viu neste homem? Meu pai eterno! O que você viu neste homem?
-Dona Crepúscula, eu sou o homem da vida da sua filha. O amor é cego.
-Cego demais, pro meu gosto.
-E o seu Adjacente? Seu marido. Meu sogro. Sofreu nas mãos da senhora mais que charuto na boca de bêbado. E olha que ele me contou certa vez que teve tantas e tantas moças que lhe deram bola. Houve até uma miss.
-Nabuco, cale a boca.
Foi uma tarde de domingo inesquecível. Eulália apreciando uma luta mais que medieval. Nabuco de um lado empunhando um chifre de boi e do outro lado a dona Crepúscula empunhando outro chifre de boi, numa luta de esgrima que durou e durou.