De vagar com a Santa...

E dona Candinha foi puro desvelo com a Santinha, que estava prestes a transportar de Beagá para Lagoa da Prata. Embrulhou-a cuidadosamente numa toalha e se recusou terminantemente a que ela fosse colocada no porta-malas do automóvel. Em sinal de supremo respeito, pô-la no colo, apesar dos protestos dos acompanhantes que não viam razão para tanto cuidado. Cuidado e respeito, bradou Dona Candinha, que antevia naquela poderosa imagem o antídoto para tantos pecados daquela gente lagoense.

E a viagem, de seus duzentos quilômetros, transcorreu tranquila. Até demais, com os muitos cochilos em meio à vigília permanente de Dona Candinha. Na parada do Milhão, na 262, recusou-se terminantemente a descer do carro para um banheiro, um esticar de pernas e um lanche com o pessoal. Não, a Santinha não ia ser relegada ao abandono.

E a viagem se seguiu, e chegou ao fim, enfim. E não estaria estampada nas pias lembranças dos acompanhantes não fosse e episódio inusitado da chegada: ao apear do veículo, dona Candinha, trêmula de emoção, deu um passinho em falso e a imagem foi direto rumo ao chão. Que era de cimento, pro seu maior padecimento. Estilhaçada, punha fim à jornada. A Lagoa, largou-a abençoada?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 01/02/2016
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