AMOR NA INTERNET
Tudo começou numa conversa na “sala” de bate-papo da internet. Descobriram que tinham algumas coisas em comum e acabaram trocando endereços eletrônicos. Ela morava na Bahia, tinha 23 anos e estudava multimídia. Pretendia vir para o sul nas próximas férias. Ele pediu uma foto, que veio anexa na mensagem seguinte, de corpo inteiro: era realmente uma gatinha, de olhos verdes, corpo moreno, com destaque para aquela parte da anatomia preferida pelos marmanjos, e que os costureiros acham que a mulher não precisa ter.
Extasiado, saiu mostrando a foto para os amigos:
- Olha só que material!
Numa das trocas de mensagens, a moça falou (leiam digitou):
- Pode me chamar de Vuvuca, é meu apelido para os íntimos.
Ele não tinha apelido para os íntimos, inventou um na hora.
Aos poucos, o romance começou a esquentar. Ela sussurrava, on line: tô sem nadinha, bem. Ele suspirava na frente do monitor, e transformava o suspiro em caracteres na telinha: ai, Vuvuca! E seguiam pela madrugada num amor louco, patrocinado pelo provedor. Imaginava toda aquela morenice em seus braços. Estava gamadão, não sabia se pela foto sensual ou pelas suas palavras, que se formavam uma a uma no monitor e que ele recebia como se sopradas diretamente da boca perfumada da baianinha.
Numa dessas, como é inevitável entre namorados, acabaram brigando. Começou com um mal-entendido, uma palavra mal aplicada. Ele, ciumento, disse coisas horríveis pra moça, que revidou dizendo que não aturava desaforos, ainda mais de um estranho. Estranho? Agora era um estranho, depois de todas as baboseiras que lhe havia dito, como um idiota? Depois de estarem juntos, pele com pele, virtualmente falando? Ela não quis saber, desconectou na sua cara.
É verdade, ficou chateado. Mas lá longe uma baianinha de olhos verdes também se entristeceu, vendo a velhinha andar jururu pelos cantos da casa:
- Tadinha da bisa Vuvuca. Deve ter terminado mais um romance pela internet.
TEXTO EXTRAÍDO DO MEU LIVRO "COM HUMOR SE PAGA", CONSTANTE DESTE SITE