A CASA DA LUZ VERMELHA

A pensão de D. Jandira era a mais visitada da cidade. Antigamente era chamada de “rendez-vous”, depois aportuguesaram o nome para “randevú”. Ela não gostava dos nomes: Randevú, puteiro, zona... Era simplesmente pensão de D. Jandira. As “moças” que freqüentavam a pensão eram finas e educadas. Segundo norma da casa não podiam recusar ou selecionar clientes. Feio ou bonito, novo ou velho tinha que ser bem tratado. Bêbados lá não entravam. João Batista o segurança da casa com seus quase dois metros, não deixava os “mamados” entrarem.

No alpendre da casa havia uma enorme lâmpada vermelha, que identificava o local. O movimento era grande, era um entra e sai até de madrugada. D. Jandira se orgulhava da seriedade e discrição de seu estabelecimento. Em vários anos de “trabalho”, nunca houve algum incidente com a polícia.

Certo dia um cliente ao adentrar o recinto estranhou o fato da mudança da lâmpada do alpendre: ao invés de vermelha havia uma lâmpada azul violeta. Perguntou D. Jandira o motivo da mudança. Ela explicou:

-Ah, meu filho você sabe como minha pensão é respeitável e discreta, apesar de ser uma casa de encontros, nunca tive problemas com vizinhos nem com a polícia, mas muita gente estava confundindo meu estabelecimento com uma coisa terrível...

-Sim? Com o quê tão terrível assim?

-Com o diretório do PT que fica duas quadras abaixo, lá também tem uma lâmpada vermelha que fica acesa a noite toda... Isso aqui tava virando a maior bagunça. Aqui aceito vários tipos de freqüentadores: Tarados, viados, sapatões, cornos, porém petistas, não...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 04/01/2016
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