Condenado
Eu respiro bem forte e sinto meus pulmões encolherem ao tamanho de limões. Como se fosse um velho fumante tentando completar uma maratona, caminho trêmulo para o momento final, pareço andar em areia movediça tamanha a dificuldade de mover minhas pernas, afundando cada vez mais em desespero. Todos olham para mim, "Eu tenho cara de palhaço por acaso?", grito em direção a multidão, mas minha voz falha. Não tenho raiva, o impulso que tomou conta de mim foi somente um destempero.
Minto. Tenho muita raiva. Se não dos outros de mim. A Raiva é a bactéria que infecta a água sagrada, a raiva é o chamado do velho mestre, o bálsamo delicioso tal o fruto sagrado. Ora, a ira não foi o pecado que o Deus de Abrão cometeu? Por que não posso provar dessa iguaria, se quando o faço acabo a implodir mim mesmo.
O suor cai da minha testa como o dedo da morte me acariciando. Minhas pernas estão pesadas de tensão, mas não tenho medo. Sinto meus pulmões diminuírem de tamanho mais ainda, agora são dois feijões. De que me serve agora esses pulmões limpos e essa alma branca? Deveria ter fumado aquele charuto e brincado naquela lama. Mais um passo diante do gólgota.
Tenho medo! Menti antes. Eu sinto medo, mil megatons de medo, medo transformando-se rapidamente em ansiedade na minha corrente sanguínea, ansiedade que tenta me sufocar e arrancar meu coração do peito. Não é o sobre a verdade, ou sobre o sentido da vida, que se ocupa minha mente, não penso em minha mãe nem em meus irmãos, eu penso na minha cama. Encho-me de vontade de chorar mas penso no exemplo as crianças, além disso, sempre gostei da minha dignidade. Há muito conta-se a história de que um condenado havia preferido viver em um espaço tão minusculo que quase não poderia mexer os pés e num lugar tão inóspito que somente haveria areia ao seu redor, "o que importa é viver" justificou. O que importa é viver apesar de tudo.
A professora me pergunta se não vou começar o seminário. Sim, claro, respondo.