LAVANDO A PELE “SUJA”

Ultimamente, nesse país, realmente vemos coisas nunca dantes vistas, algo do “arco da velha”, como costumava dizer a minha avó.

E naquele ambulatório não é nada diferente...

Dia desses, o meu amigo doutor João recebeu aquele seu simpático casal de “pacientes maduros” que andava meio sumido e eu, que estava por ali a observar o entorno, lhes conto que nunca havia visto nada parecido.

Supreendente!-melhor dizendo.

A filha que levava os pais até o doutor estava super aflita com o que julgava ser algo de muito grave a ocorrer na saúde do pai.

A perna, muito vermelha, fazia bolhas e minava um líquido como “água de rocha”. Queixava-se de episódios de febre baixa.

Dona Filomena, que está na oitava década da vida, sempre muito esperta e afeita a limpar tudo e a organizar a casa com afinco, ainda cuida sozinha de seu marido, o seu Vicenzo, um senhor nonagenário napolitano, duro de roer, que não aceita ninguém “estranho” para cuidar dele -muito menos da pele dele!- e que há trinta anos sofre de “problemas na circulação das pernas” , o que lá atrás lhe foi diagnosticado como varizes.

A queixa de toda a vida, mesmo depois de duas cirurgias, sempre fora de inchaço, coceira, peso e escurecimento da pele, todavia, tudo sob controle clínico, afinal, dona Filomena vinha a tratar daquela pele como uma exímia enfermeira digna de todas as homenagens.

“doutor, o senhor já sabe como sou, gosto de tudo bem limpinho, sou exigente nas limpezas, ele sempre está brilhando, faço os banhos, hidrato com os óleos e dou os remédios conforme o senhor sempre mandou”-era o que sistematicamente o médico ouvia da dona Filomena.

Mas dessa vez, contou a filha, dona Filomena (que segundo ela anda meio “estranha”) resolvera curar de vez o que durante trinta anos a ciência não deu jeito, o que insistia em minar e sujar a pele do seu amado esposo.

E o relato da filha:

“doutor, nessa semana fui ver meu pai que me contou que a mãe colocou a perna dele num banho de sabão OMO , duas vezes ao dia por quinze minutos, para ver se clareava o escurecimento da pele.”

Doutor João ficou boquiaberto...

“Dona Filomena, por que a senhora fez isso?” perguntou o doutor.

“o senhor sabe muito bem, é que gosto de tudo bem limpinho, ele vive com essa perna "suja" e esse sabão, doutor, é o melhor remédio pra ele”.

Então entendi que o doutor João, além de diagnosticar uma séria complicação aguda - ainda não catalogada na ciência!- duma antiga doença vascular no Vicenzo...acabara é de fazer um novo diagnóstico preocupante para a dona Filomena...

Nota: Verídico, nomes fictícios, para a reflexão do social.