A Origem dos Bebês
Devo dizer que uma das mais difíceis perguntas para um pai de família normal (não incluo psicólogos, sexólogos e outros do gênero – são eles uma casta à parte: sem as amarrações e conceitos pré-concebidos que alimentam a maioria da humanidade) é a fatídica: de onde vêm os bebês?
Sou um pai moderno, até o ponto em que a modernidade não me aperta a garganta, obrigando a assumir uma firme posição diante de assuntos polêmicos e que, pelo menos a minha geração, ainda não aprendeu a lidar com a devida clareza.
Antes da geração de minhas filhas, nos primeiros passos do meu enlace matrimonial, acreditava que eu deveria cuidar da educação sexual dos filhos homens e que minha esposa assumiria a orientação das filhas. Tivemos duas filhas. Pronto. Eu, diante da minha orientação deturpada, acreditava que a esposa diria tudo. Grande engano. A inconveniente pergunta sempre é lançada nos momentos mais inoportunos. Dentro do carro, diante da televisão, quando você está assistindo a um jornal, etc.
Minha esposa e eu compramos um livro, cujo nome não cito porque não me vejo digno de aplicar todo o conhecimento do autor, no qual nos é esclarecido que a cada idade, as informações que passamos às crianças devem ser ministradas de acordo com o seu nível de entendimento.
Ali pelos 4 a 5 anos de idade das minhas pupilas queridas, eu me saí tremendamente bem: as crianças vêm de cegonha.
- De cegonha? Como?
- Fácil, quando o pai e a mãe se casam, o padre nos dá um número de telefone secreto, o tele-cegonha, depois é só ligar e encomendar o bebê.
Silêncio da outra parte, ao passo que minha esposa me lança nervosos petardos com os olhos à medida que vou reforçando e ilustrando minha versão dos fatos. Não sou o único a perpetuar este pecado. Em reuniões de pais e mestres descobri sobre o “Cegonha.net”, o “Cegonha-táxi” e o “Disk-cegonha”, todos versões da mesma história – nós, os pais normais, somos muitos solidários neste momento. O chamado inconsciente coletivo cria um fantástico sistema de proteção psíquico.
O sábio livro também nos informa que não devemos mentir para as crianças porque quando descobrirem que somos “mentirosos” nunca acreditarão em nós. O autor cravou 2 a zero. Queria saber se estes autores aplicam tudo, tudo mesmo, na orientação dos seus filhos.
Elas foram crescendo e a sustentação da minha versão foi ficando difícil, até que se tornou ridiculamente insustentável.
Certo dia uma delas me disse:
- Pode parar de mentir, pai, nós já sabemos como são feitos os bebês.
Dessa vez o silêncio veio da minha parte. Decidido a não ficar por baixo na história, devolvi a pergunta:
- Vocês sabem realmente?
- Sim, nós sabemos – elas me diziam entre maliciosos sorrisos.
- E como é?
Ficaram vermelhas, entreolharam-se e, rindo muito, responderam debochadamente:
- Tele-cegonha!
Pararam de fazer perguntas. Realmente, agora, elas sabem a verdade e estão prontas para, no futuro, perpetuarem a minha versão dos fatos pelas gerações vindouras...
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