A VOGA DA POLÍTICA “ DE BEM NA MODA SELFIE”
Quase num ensaio cômico.
Desde os idos anos cinqüenta, século passado e também bem repassado, tanto nos campos das copas mundiais de futebol quanto nas crônicas de Nelson Rodrigues, o brasileiro ficou conhecido como um povo sujeito ao contundente diagnóstico de “complexo- de- vira –latas”.
Acho isso duma judiação...
O assunto é complexo mesmo e vez ou outra me pego com dó dos cãezinhos subestimados na sua superioridade de ilustres seres para ilustrarem algo que por não ter dado certo, aliás um fiasco total que teria grandes concorrentes, pontuaria para sempre um transtorno de inferioridade social cabível a qualquer campo dos tempos vindouros. Que triste.
Paradoxo? Talvez.
Decerto Nelson Rodrigues não conhecesse a nobreza dos cães “ vira latas”...ou , numa antítese do sentimento, talvez tenha chegado ao mais profundo âmago da sede de existir por parte dos cãezinhos abandonados a procura de dar e receber carinho.
Hoje, mais modernamente, os psiquiatras diriam que o brilhante diagnóstico psicossocial feito por Nelson Rodrigues caracteriza um "transtorno social pós- stress agudo de humilhação", aliás atualmente já stress crônico em TODOS OS CAMPOS do país, e cuja gênese primária – a que ocorreu após termos perdido a final da Copa de ciquenta, de dois a um para o Uruguai e em pleno Maracanã-perdura até hoje como um “príon” que infecta a tudo e a todos, a nos tirar o discernimento neuronal para o cenário surreal.
Tudo isso para que, por analogia, eu possa discorrer um pouquinho sobre um interessante efeito colateral da crônica do Nelson Rodrigues, a nossa súbita virada cultural de “complexo- de- vira- latas” para a sublimação arrogante do “complexo- de -Pit- Bull”, qua só late mas não morde, aliás aonde, na política,já somos feras mundiais arrefecidas, só aparentemente indomáveis.
Agora estamos mais é para um real "transtorno do complexo- de -cordeirinhos...”
Vejam, na nossa infindável noite de apagão social, todo gato é pardo, como diz o dito.
Assim, bem lá longe, a quem interessaria enxergar nossas tantas luzes apagadas?
Em todo caso é melhor brilhar nos paetês dos discursos, ao menos!
Havemos de ser bela viola, ao menos lá fora!
Aliás, não é complexo de vira-latas não, percebo que já faz um pouco de tempo que enganamos o mundo em todos os nossos campos, todavia não vou me estender em política porque meu assunto de hoje, acreditem, é...moda!
Juro que é, não parece, mas é.
Então, sou mulher, sou protegida no meu direito naturalíssimo pelo estatuto do MINISTÉRIO DAS MULHERES DE BEM COM A MODA e quero parabenizar toda a moda que está na moda executiva em voga!
Moda belíssima!Tenho que admitir. Ando encantada...
Defendo aqui meu legítimo direito de me encantar, adquirido com o progresso social vigente na subida do IDH da moda e ponto final.
Quem vai dizer que não? Seria um voto a menos, é melhor não me irritar.
Mais precisamente : quero parabenizar a moda na política em voga, tipo, a de se sair bem “na selfie” e- tipo xô!- pessimismo de gente golpista que sofre do inaceitável “complexo de “vira-latas”!
Será que dá certo essa estratégia de moda?
Claro que dá! Pra mim já deu!
Respondam-me: qual mulher não se encantaria e não se sentiria poderosa, nem que seja só na representatividade de fachada, com um modelito novo, fino e elegante para representar seus iguais recuperados, depois de tão definhados pelo recente passado de ”vira-latas” nas crônicas ácidas e otimistas de Nelson Rodrigues?
Justo ele que, embora profundo conhecedor das gentes, nem de longe pressuporia nossas futuras tragédias da vida da vida social e política do pedaço?
E para o povo sem brioches, um modelito bem básico: Sob uma nota dum "Chanel número 13/171"...Um sapatinho novo de cinderela comprado na boutique da Champs Elysee, um reloginho básico da Tiffany, uma pashimina turca legítima, uma carteirinha invisível da Gucci, uma blusa de seda pura com detalhes em renda chantilly, um overcoat de lã de chashimere londrino...
E tudo isso depois da elegância promovida pela atividade física aeróbica sob a cruel anaerobiose dum povo que delira...
Sem esquecer dos antioxidantes e energéticos naturais : um suco de mandioca ao sabor do vento, e um relaxante banho de imersão com um oleozinho de péroba hipoalergênico para hidratar a pele..
Bem, vamos olhar e desfrutar.
Afinal quem paga tem que ao menos poder aplaudir de longe...e em pé.
Ara, e se a questão é falar para o mundo das nossas proezas progressistas, lá estaremos nós super bem representados num modelito sempre novo e elegantérrimo, de todas as cores, que vai do vermelho "nuança inferno" ao "azul-miragem"- nuança celeste fictício, sempre adornado com pérolas bivas, pontos brilhantes de alguns altos quilates ( "quilates" de pedras preciosas-não de latidos catárticos do ex- ainda pungente"complexo de vira- latas”, que dizem ser já tão superado nos palanques da nossa vida política e social de vanguarda.
Já no campo do futebol é melhor nem comentar.É só gol contra...
Então, deduzo que um fato é fato: crise brasileira? Aonde?
Se o negócio da hora é aparecer “chique no úrtimo” na fita selfie da prosperidade que o povo gosta...
Joãzinho Trinta estava corretíssimo: "quem gosta de miséria é intelectual"-pra mim a frase que melhor diagnosticou o Brasil.
O homem era um sociólogo nato. Nesse ponto melhor que Nelson Rodrigues, eu acho.
Olha nós na selfie, gente! Entendemos bem disso!
Sorria , você está sendo enganado!
Pensando bem, mudei de ideia: agora sim, eu me sinto super bem representada!
Se for para continuar chique, eu topo pagar CPMF.
Digo que aprovo todos os modelos, inclusive o look dos reflexos das luzes.
Aquelas que gostaríamos que iluminassem todo o escuro do nosso poço sem fim.
Luzes Up ao final do túnel!- São os meus sinceros desejos da última moda.
Será que consegui escrever humor?
Fui... ler Nelson Rodrigues que é bem menos "stressante".