NÃO PRECISA ASSOPRAR, PAI
Tonhão fazia parte de uma família que morava no sertão no inicio do século passado. Gente muito humilde, mas trabalhadoras. Principalmente Tonhão, na roça, enquanto os outros capinavam uma rua, ele fazia duas; no machado e na foice então era imbatível.
Mas, na hora de comer, comia por dois ou mais. Quando estavam na roça sua mãe mandava os caldeirões de comida para os que estavam trabalhando, dois litros para cada, o do Tonhão cinco litros. Ás vezes, depois da merenda das duas horas ele ainda procurava nos caldeirões dos irmãos se havia alguma sobras. Seu apetite era dar inveja.
Certo dia a sua mãe chegou ao pai e falou,
- Meu veio, o Tonhão tá na hora de casá, os irmão mais novo já casaro! Vai fazê uma visita pro cumprade Bastião lá no Grotão, ele tem um punhado de menina muié pronta prá casá, vê se ajeita uma pro Tonhão!
Depois da janta o pai chamou o Tonhão e disse,
- Tonhão, sábado nóis vai no cumpradre Bastião, vô vê se ajeito um casamento pro cê, mais na hora que nóis fô cume, se eu pisa no seu pé, o cê acaba de come aquele prato e não come mais, nem se eu insiti, tá entendendo?
-Sim pai, pode ficá sussegado, vô bedece!
No dia marcado, arrearam as mulas e seguiram por quatro léguas. Chegaram à tardinha, após os comprimentos, foram convidados para o jantar.
O pai sentou ao lado do Tonhão, por precaução.
Ao terminar o primeiro prato , o Tonhão sentiu uma pisada na sua botina, parou de comer imediatamente, seu pai estranhou, a dona da casa insistiu ,
- Coma mais meu fio, o pai também, insistiu.
Mas conforme o combinado, após a pisada, tinha que parar; só que quem pisou foi o cachorrão da casa, ninguém viu que estava em baixo da mesa. E o Tonhão não comeu mais.
Como era de costume, depois do jantar, conversaram um pouco no terreiro à luz da lua cheia, parecia dia.
Logo foram se deitar. Na casa de pau a pique, os quartos eram todos em fila e tinham cortinas nos lugar das portas; havia muitas frestas nas madeiras das paredes depois que caia o barro que era colocado nos bambus trançados, dentro da casa era bem claro.
Lá pela meia noite, Tonhão falou para o pai
- Pai num guentando de fome,
- Em riba do fogão, na cozinha, tem a panela de arroz doce que sobro da janta, vai lá quetinho comê.
Assim fez o Tonhão, comeu até ficar triste. Ai pensou, vô leva um poco pro pai, pegou uma gamelinha encheu e foi bem devagar para não fazer barulho.
Estava tão distraído que acabou entrando no quarto das moças. Pelo claro das frestas viu a bunda de umas das moças, que dormia de debruço, sem calcinha e a camisola levantada, pensou que era a careca do pai; pegou uma colherada de arroz doce e levou em direção da bunda da moça dizendo baixinho,
- Pai, troce pro cê tamem,
Neste momento a moça fez um pum, sem barulho ,só sopro, ao que Tonhão cochichou!
- Não precisa soprá, pai, tá frio!