ELEGANTES...MAS PELADOS!

“Conto verídico”

O edifício acabara de receber o “HABITE-SE”, e pronto, aguardava pela chegada dos primeiros moradores.

Todas as suas dependências davam para a face norte da cidade e assim, precocemente era iluminado pelos primeiros raios solares que espocavam em todas as suas janelas.

Todas as manhãs, por volta do meu banho da ainda madrugada, eu erguia meus pés e espiava pela janela do banheiro, para me maravilhar do cromatismo da aurora que raiava, a borrar o horizonte de concreto que do alto, se perdia de vista...

Tão logo, comecei a perceber que sempre havia vultos nas janelas do edifício em frente ao nosso, que pareadas, pareciam nos observar.

“Devem estar encantados com a beleza e o design da construção”, pensava eu, que de fato, se destacava entre as demais arquiteturas da rua.

Mas...eram olhos encantados “demais”...

Certa manhã, ao descer no elevador, me deparei com um aviso, assinado pela administradora e pelo recém eleito síndico:

URGENTE:

FICAM OS SENHORES CONDÔMINOS CONVOCADOS PARA A REUNIÃO DE CARÁTER EXTRORDINÁRIO, HOJE ÀS VINTE HORAS, EM PRIMEIRA E ÚNICA CHAMADA.

PEDIMOS A PRESENÇA DE TODOS, POIS ALÉM DE DELICADO, O ASSUNTO É URGENTE.

O quê poderia ser tão delicado e urgente num condomínio que acabara de se instalar?

Nunca vi tanta gente numa reunião de condomínio!

Achei estranho , pois foi o síndico do prédio em frente , que iniciou a fala, indignadíssimo:

-Prezados senhores, estou aqui para lhes informar que não podemos mais conviver com a transparência dos vidros de seus respectivos banheiros. Muito lindos, elegantes e modernos, mas deixam ultrapassar as imagens do seu interior,quando as luminárias são acionadas à noite.

Nossas crianças não podem mais conviver com essa pouca vergonha!

-Um atentado ao pudor!

E logo tratou de mostrar os documentos encaminhados para a nossa administradora, para o nosso síndico,para a construtora, para o engenheiro e para o arquiteto responsáveis pela obra, para os advogados dos condomínios em questão, para a prefeitura, para a associação de moradores da rua, para o jornal do bairro, enfim, uma verdadeira “caça às bruxas aos vizinhos pelados”.

O assunto rendeu dias...

Na manhã seguinte, uma cartinha tímida da construtora nos informava a troca dos respectivo vidros... “Pedimos desculpas, e por razões alheias à nossa vontade...”

Nunca mais ousei espiar o nascente pela janela...do banheiro...

Até hoje, quando cruzo com um daqueles vizinhos da frente, fico imaginado o que aqueles olhos conhecem de mim...