CONHECE AQUELA DO BOCAGE?

Conheci um sujeito – apreciador de anedotas – que mandou buscar pelo correio as obras completas de Bocage. Imaginava, animado, o aumento substancial em seu estoque de anedotas. Sucesso total nas pescarias e rodas de cerveja! Qual não foi sua decepção ao receber um volume de poesias de amor. Óbvio, pois Bocage foi um poeta português, um dos precursores do romantismo.

Certamente, ficou matutando por que cargas d`água o poeta é tido como personagem de centenas de histórias picantes, que ficaram conhecidas como “anedotas do Bocage”. Para rivalizar com ele, só mesmo Pedro Malasartes, que sacaneou padres e maridos sovinas, em cidades do interior.

Os dois eram personagens de anedotas em tempo integral. Mas não estariam confundindo o nome de Bocage com o do Boccaccio, este sim autor de histórias de malandros e libertinos, no século XIV? Para tirar a prova, leiam o “Decameron”.

Acho, até prova em contrário, que Boccaccio foi o pai das anedotas. Ou será que já existiam muito antes essas narrativas deliciosas com final surpreendente, que nos fazem desatar o riso? Imaginem: você conhece a última do Átila? E aquela dos dois bêbados da Babilônia? A do papagaio do Carlos Magno?

Uma das versões bem-educadas do Bocage era o Zequinha, aquele das balas Zequinha (perguntem pra quem tem mais de cinquenta). O Zequinha fazia mil estripulias, mas suas figuras – que vinham junto com as balas – podiam ser acatadas no seio das melhores famílias (eta frase cafona!). Naquele tempo, costumava-se dizer: fica quietinho pra ganhar balas Zequinha. O que equivalia a: cala a boca! Não se meta onde não foi chamado!

Talvez o herdeiro atual do Bocage seja o Joãozinho, aquele menino terrível que deixa a professora de cabelos em pé. “Joãozinho, diga qual é a capital de Umbanda”. “Quibunda, professora!”

E depois dele, será que ainda teremos algum personagem-herói que simbolize nossa capacidade de rir das contrariedades do mundo?