O ESPETÁCULO DÁ VIDA - capítulo XI

A CULPA NÃO FOI SUA

Richard e Gage estavam sentados na praça e Lorde passava por ali e os vistou de longe. Então correu para lá.

- Gage! Richard! - dizia Lorde, em euforia - não sabia que já tinham chegado! Por que não me ligaram para avisar? Onde estão os outros? Não vieram?

- É... Sim - dizia Gage, engasgado.

- E onde estão?

- Estão... Ali...

- Então vamos lá!

- Mas é que...

- Vamos!

Chegando no trailer, Lorde abraçou os outros, um por um, muito feiz, ao contrário dos artistas.

- Nossa, como é bom vê-los de novo! - falou Lorde - nem acreditei quando vocês disseram que vinham e que já tinham conseguido o dinheiro!

Seu Italiano sorriu disfarçadamente para Lorde, sem nada dizer.

- Sabe - continuou Lorde -, às vezes eu senti medo e pensava que minha filha não iria resistir, mas quando recebi o telefonema de vocês uam esperança enorme nasceu em meu coração e parecia que eu já podia ver minha filhota pulando e sorrindo outra vez!

Italiano não resistiu à tristeza que mantinha em seu peito e tocou no ombro de Lorde, com um olhar melancólico e disse:

- Lorde, nós... Não estamos com o dinheiro.

Lorde esbugalhou os olhos, mas não disse nada, porque estava pasmo e emudeceu.

- O Pulguento engoliu a caixinha! - disse seu Italiano.

- Não é verdade, Lorde! - exclamou Mara, olhando com repreensão para Italiano - fomos roubados.

- Roubados? - perguntou Lorde.

- É, por um sem vergonha que nos pediu carona e acabou carregando a caixinha com o dinheiro.

Lorde baixou a cabeça e seus ombros caíram. Italiano se punha de frente à ele e, com as mãos no rosto, começou a chorar.

- Lorde, eu... Sinto muito... - disse, em pranto, Italiano.

Lorde o abraçou e falou:

- Está tudo bem, a culpa não foi sua e de nenhum de vocês.

- Mas, Lorde, e sua filha?

- Basta agora que eu creia em Deus, ele salvará ela. Mas, tem algo que eu desejo de vocês...

- O quê?

- Minha filha queria muito assistir a um espetáculo, mas desde que adoeceu não pode. Eu queria que vocês fossem comigo até o hospital e fizessem uma simples apresentação para ela, só para que eu pudesse vê-la sorrir.

- Mas é claro!

- Então vamos lá.

O CIRCO É PRA FAZER RIR

A menina de Lorde estava deitada sobre a cama, ao lado da mãe, quando Lorde entrou e falou para ela:

- Oi, filhota, papai trouxe uma surpresa para você.

- Surpresa? - perguntou a menina, com a voz fraca - o que é?

- Lembra que você me disse que gostaria muito de assistir à uma apresentação de circo? Pois é, você vai assistir!

- Mas eu nem posso sair da cama!

- E foi por isso mesmo que eu trouxe o circo até você!

Lorde fez um sinal com a mão, para que os artistas entrassem. O primeiro a entrar foi Gage, tocando uma sanfona e os olhos da menina brilharam. Logo depois, entrou Lilie, rodopiando na pontinha dos pés, e a gêmea Clarita cantava:

"Veja a bailarina bela

que acabou de entrar

veja como ela rodopia

sem parar

dona bailarina o espetáculo

já vai começar

então venha na pontinha dos pés

se apresentar..."

Gage continuou na sanfona... E a menina abriu um lindo sorriso. Clarita continuou a canção...

"Veja, seu tonto palhaço

como foi se apaixonar

por uma bailarina bela

que nasceu pra brilhar

veja como os olhos dela

brilham ao te encontrar

acho que o seu sorriso

fez ela se apaixonar..."

E Gage tocava... E entrou a gorda, com pipoca e algodão doce para a menina e entrou Richard, equilibrando tochas e Clara dançando com bambolês. Aí entrou seu Italiano e Pulguento com seus truques. E Clarita cantava:

"Vejam como as crianças sorriem

ao espetáculo começar

brincam como se a noite

nunca fosse acabar

pipoca e algodão doce

para a elas alegrar

é impossível que um sorriso

não venha a brotar

O circo é pra fazer rir

e não chorar

Fazer rir e não chorar

Fazer rir e não chora-ar

O circo é pra fazer rir

e não chorar

Fazer rir e não chorar

Fazer rir e não chora-ar."

A SUA MÁGICA FUNCIONOU!

Quando a melodia acabou, Lorde preparou-se para fazer uma mágica para a filha e pediu a ajuda de Gage, para que ele verificasse se tinha algo escondido na cartola.

- Não - disse Gage -, só alguns piolhos.

- Agora, é só dizer as palavrinhas mágicas...

- Ah, isso eu sei! As palavrinhas mágicas são: com licença, obrigado...

- Não, seu burro, não estou falando dessas palavras!

Lorde pegou sua varinha e pediu que Gage repetisse as palavras mágicas: "abra cadabra, leite de cabra, faça-me aparecer algo gostoso de comer!" Gage tentou repetir, mas não entendeu direito...

- Abra abrido - dizia Gage -, leite de cabrito, faça aparecer o dinheiro do circo!

Lorde bateu a varinha na cartola e, surpreendentemente, alguém entrou no quarto e deu um tropicão e de suas mãos saltou a caixinha de dinheiro do circo e ela caiu bem dentro da cartola do mágico. A gorda olhou bem para o rosto do rapaz que havia caído e na hora o reconheceu.

- Michael! - gritou a gorda, levantando o rapaz.

- Ai... Aí está o dinheiro - disse Michael, cheio de dores.

Lordeu pegou a caixinha e a abriu e lá estava todo o dinheiro e ele nem conseguia acreditar.

- Papai - dizia a menina de Lorde -, a sua mágica funcionou!

Lorde olhou para seu Italiano e este assentiu para ele. Assim, pularam de alegria, todos, porque a menina de Lorde estava salva.

E O PEGOU?

Enquanto Lorde comemorava com a família, Mara abraçava Michael e o enchia de beijos.

- Que bom que você voltou, Michael! - ela dizia, emocionada - e o que te fez voltar?

- Bom, eu cresci no circo - ele falava - e quando me afastei estranhei tudo! É como quando a gente dorme na casa de outra pessoa e sente falta da nossa cama... Porque não é a mesma coisa.

- E Penélope? Ela voltou com você?

- Na verdade, ela quem me sugeriu a voltar para o circo, mas disse que não voltaria comigo, por razão de que não quer se afastar da família em Felicidade.

- E como você nos encontrou aqui?

- Falei por telefone com Lorde e ele disse que vocês estariam aqui, então vim.

A gorda abraçou mais uma vez o filho e seu Italiano os interrompeu.

- Só um instante - disse Italiano -, mas, me diga, Michael, como você conseguiu recuperar nosso dinheiro?

- Bom... Eu estava passando tranquilamente pela rua, quando ouvi gritarem: "pega ladrão! Pega ladrão!" aí, eu vi o ladrão vindo na minha direção, me preparei para agarrá-lo...

- E o pegou!?

- Na verdade... Teria pego, se um homem alto não tivesse se jogado na minha frente e agarrado o infeliz.

- Ah.

- Mas, quando ele segurou o bandido, a caixinha caiu próxima ao boeiro e...

- Você pegou a caixinha!

- Na verdade... Teria pego, se uma senhora não tivesse se jogado na minha frente e a pego primeiro.

- Então, o que aconteceu?

- Bom, a velhinha acabou esbarrando no chão e...

- Você apanhou ela.

- Na verdade... Eu apanhei a caixinha.

- Ah.

- E assim que olhei para a caixinha, a reconheci de imediato, era a caixinha do circo! Então vim procurar por Lorde, para mostrar-lhe a caixa.

Quando Michael terminou de falar, a gorda o sufocou com mais abraços, enquanto ele enfiava a mão no bolso da jaqueta e retirava um envelope branco.

- Ah, também ganhei esta recompensa, por ter pego o ladrão - disse Michael.

- Ora - falou Italiano -, mas você disse que não tinha pego o ladrão!

- Na verdade... Percebi que a velhinha e o homem de quase dois metros eram cúmplices do ladrão e estavam o ajudando a escapar! Aí, eu corri com a caixinha nas mãos e eles correram atrás de mim.

- E o que você fez? - perguntou a gorda.

- Eu parei de repente, e os três bateram um atrás do outro, sem freio e caíram no chão.

- E depois?

- Depois, a polícia nos alcançou e prendeu os três.

- Esse é o meu menininho! - disse Mara, apertando as bochechas de Michael.

Seu Italiano abriu o envelope, ansioso, e quando viu o que havia dentro, pulou de alegria.

- É exatamente o valor que acumulamos com as apresentações!

Nesse momento, um policial entrou no quarto de hospital e disse:

- Vocês vão ter que pagar por todo o prejuízo que causaram à cidade e aos comerciantes e...

Ele viu o envelope na mão de seu Italiano e o tomou.

- Muito bem - disse o policial, dando de ombros e levando o dinheiro.

Italiano estava prestes a se esparramar no chão, mas Gage o consolou, dizendo:

- Não fique assim, seu Italiano... Veja como valeu a pena! Conseguimos salvar a filhinha de Lorde e veja como estão felizes!

- É, você tem razão, Gage - disse seu Italiano, abrindo um sorriso -, não perdemos nada com tudo isso, ao contrário, ganhamos mais um sorriso.

O QUE É BOM NUNCA ACABA

E a menina de Lorde foi salva e os espetáculos continuaram, porque o que é bom... Nunca acaba...

- E vai ter palhaço?

- Vai sim, senhor!

- E vai fazer graça?

- Vai sim, senhor!

- Cadê as suas calças?

- Droga... Lorde, devolva!

FIM

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 05/10/2015
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