NA REPÚBLICA DA LIQUIDAÇÃO DAS BANANAS VERDES
Quem está acostumado a ler minhas crônicas já sabe que tenho paixão por bananas.
Gosto bem simples, hoje refinadíssimo.
Já escrevi vários textos em homenagem a elas, e me lembro que já falei até sobre Carmem Miranda, artista impecável da MPB que aos "United States of America" levou, não apenas na voz a nossa bela música que informava "yes, nós temos bananas!", mas também lhes preparou na dança uma bela salada de frutas equilibrada na cabeça, na qual a banana era a representante principal, a mais exuberante da nossa rica e nutritiva biodiversidade frugal, e ali no palco eternizou uma cultural homenagem aos nossos vastos bananais.
Mas os tempos foram mudando para todos , inclusive para as bananas.
Falei também que já não podemos , nesses dias de caristia, usar a expressão "preço de banana", a não ser que seja para qualificar um preço bem alto compatível com a adjetivação superlativa de "banana ouro", talvez a que mais hoje denote pelo seu adjetivo os nossos preços nadinha a preço das antigas bananas.
Fato é que banana está pela hora da morte por aqui: ou o povo compra pão, ou compra tomate ou compra cebola ou compra bananas...
É o nosso básico.
E tanto faz o tipo delas...das nanicas, passando pela prata, pela ouro e até a BANANA DA TERRA, Deus, nem o que é da terra sobrou para o povo da terra.
É- e é literalmente!- o fim da picada...nem salada de tomate com cebola, nem uma saladinha de frutas com bananas sobrou para o suado bolso do povo.
Pão então...nem a caristia do circo ganha da caristia do pão.
E foi assim que aqui por Sampa, numa dessas quarta- feiras de promoção de "comida" em redes maiores de supermercados, uma fila extensa se formou para a liquidação de bananas nanicas a 1,80 o quilo.
Caramba, nunca tinha visto nada igual aquilo...
Parecia milagre da economia brasileira: poderia ter dado até no Jornal Nacional : Confusão na deflação das bananas. Mas não deu.
Então, eu vou contar.
Estava eu lá na fila do supermercado e observei que os carrinhos tinham assim: dois tomates, duas cebolas e uma montanha com inúmeros cachos de bananas verdes. Aquilo era de doer o coração...
De repente uma confusão.
Uma senhora bem idosa, aparência franzina mas bem convicta dos seus direitos de consumidora, só faltava bater no gerente da loja e gritava a altos tons, alegando que a propaganda do folheto era enganosa, afora o fato de que as bananas estavam muito , mas muito verdes...
-Está aqui ó, bananas nanicas a 1,20, o senhor é um mentiroso.
-Ok senhora, me desculpe, é verdade, não precisa ficar nervosa, nos enganamos no preço, eu faço pra senhora a 1,20.
-Nada disso, só pra mim não, o senhor tem é que fazer pra todo mundo que está na fila comprando as bananas da liquidação. E deveria nos ter avisado que são verdes!
Não tardou a fila toda se inflamou: estava montada a revolução das bananas, ali, pra todo mundo ver...
-É isso mesmo, o senhor tem que fazer o preço do anúncio pra todo mundo, e é já! É o nosso direito de consumidor de bananas!
Até eu quase me animei...a lutar.
-E tem mais-dizia a senhorinha- quero as minhas bananas maduras!
-Mas senhora, elas vão amadurecer, é só esperar um pouquinho!
-Como esperar um pouqinho? Quanto é um pouquinho? Eu quero comer as bananas hoje, o que o senhor me diz? Nesse calorão quantos dias vou ter que esperar para fazer "banana split" para os meus netos?
-Senhora não posso amadurecer as bananas...
-Então o senhor tem que avisar assim ó: "liquidação de bananas verdes", pronto. E deveria ter outro desconto só por ter escondido isso da gente...
Bem, eu estava ali, quase a acalmei dizendo que ela até poderia fazer uma "bio- massa" e servir com sorvete e blá blá blá (temos que ser criativos em época de crises), mas achei melhor não mudar o cardápio e entrar no trem da alegria da liquidação a menor e ao menos ser agraciada pelo direito do consumidor naquela fatídica (e não menos deprimente!) liquidação das bananas verdes.
Saí dali ainda a ouvir aquela brava senhora (no trocadilho inclusive!) esbravejar o seu direito de brasileira às bananas maduras.
Confesso que pensei com meus botões:
"Uma Nação que liquida bananas verdes e provoca uma revolução nos supermercados, bem, precisaria rever urgentemente seus conceitos e rumos gestores."
Moral da crônica: Carmem Miranda não acreditaria mas...os tempos mudaram tanto que...se temos bananas?
-Não, nós não temos mais sequer as nossas bananas maduras!
Todavia eu aqui deixo uma substituição alegre de cardápio, algo politicamente correto : nos restaram as mandiocas, lembram?
Ops, quero dizer, ao menos elas estavam lá, nos promissores discursos da prosperidade.