Minhas desventuras num caixa eletrônico

Alguns têm a opinião de que a criação do caixa eletrônico foi uma bênção para a humanidade: não bate papo com os colegas, nem sai para fazer xixi enquanto você espera impaciente na fila. Já começava a concordar com isso, até que tive de fazer uma transferência de fundos (fundos, até que tenho alguns; dinheiro é que é o problema) em uma instituição financeira. Falar nisso, nunca pude entender como pessoas que emprestam dinheiro a 3% podem ser presas por usura, enquanto instituições nos levam 12% nos cheques especiais.

Como ia dizendo, estava tentando efetuar uma transferência de fundos. Enquanto fazia esforço para decifrar o número de conta, em letras da mesma cor do cartão – onde ainda incidia o reflexo da luz – o sistema encerrou a operação. Tente de novo! – só faltou me dizer. Ali mesmo fiz uma coisa que não tinha conseguido em meses: decorei o número da conta. Mesmo assim não deu certo. Enquanto procurava identificar o próximo passo, digo, a próxima dedada na telinha, pimba! operação encerrada. A maquininha havia sido programada para prestidigitadores (aqueles mágicos que movem as mãos mais rápido do que nossa vista) e punguistas, os famosos “mãos leves”.

Dessa vez não me contive: fiz uma observação um pouco desairosa a respeito da genitora da máquina. Os usuários mais próximos educadamente fingiram não ouvir. O que eu esperava mesmo era que concordassem comigo, e a gente passaria a falar mal de toda essa tecnologia burra.

Terceira vez. Cartão. Senha. Data de nascimento. Apertei onde não era para apertar e enquanto verificava de que maneira reverter a operação, pimba de novo! Emiti novos impropérios, desta vez sem me dirigir a ninguém em especial. Um cara parrudo me olhou com jeito agressivo.

Na quinta tentativa – aleluia! – consegui teclar tudo direitinho, numa velocidade controlada (já se tornara praticamente um trabalho automatizado), a tela abriu e pude ler a inscrição: OPÇÃO NÃO DISPONÍVEL NO MOMENTO.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 25/06/2007
Código do texto: T540219
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