O GALANTEADOR AVARENTO
Luci não conseguia parar de rir olhando o rapaz simples e bem falante que despencara da escada com a vassoura na mão. Caíra literalmente aos pés de Patrícia, morena cheia de curvas que abusava dos shortinhos... Jeremias não tinha jeito, não podia ver uma menina mais bonitinha que a cercava de lisonjas, todas sem distinção, morenas, ruivas, negras ou louras, eram chamadas por ele de “minha princesa”. Fazia versinhos que teimava em falar ao ouvido das eleitas. Digo eleitas, porque ele se apaixonava por todas. A cada semana uma deusa, subia ao seu pedestal, para ser substituída pelo próximo rostinho bonito que aparecesse.
Trabalhava numa faculdade o quê lhe atiçou o desejo de estudar. Menino de subúrbio se agarrou a oportunidade e hoje, também ele é universitário. Das cantadas comuns, passou para falas mais aprimoradas, os poetas de cordel foram substituídos pelos românticos... E faz grande sucesso entre a moçada da Portela. Se não fosse “o querer” todas, certamente Jeremias já teria se arranjado.
Outro dia passou por um sufoco, foi assediado por uma cinquentona, que fazia com ele, o quê ele fazia com as menininhas, de forma descarada. O rapaz ficou apavorado, a mulher lhe dizia gracinhas, enfim, o encostava na parede. O pior é que os colegas ainda incentivavam, a coroa, a quem garantiam ser ela correspondida, e que o romance só não rolava por ele ser muito tímido... O coitado teve que pedir transferência, pra se livrar, da tia.
O engraçado nesta história, é que o Jeremias, sempre acabava perdendo suas eleitas para o Rodrigo, o seu oposto... Esse era encabulado não levantava os olhos diante das meninas, tamanha era sua timidez mas estava sempre bem acompanhado... E o Jeremias se perguntava: o quê ele tem que eu não tenho? Já fiz promessa, pra São Jorge, São Benedito até pra Santo Antonio, apesar de casamento não está nos meus planos, e nada, parece até praga...
Semana passada falou que finalmente tinha um encontro, enfim ia dar uns beijinhos, numa colega de sala. Marcou com a gata na Cantina. Chegou cedo, todo perfumado, de roupa nova e pensava é hoje que tiro o atraso, que quebro essa “quizila”. Jerusa era uma morena de tirar o fôlego, parece que Santo Antônio estava dando uma força... Ficou aguardando impaciente, a hora não passava. Resolveu ir até o balcão pedir um refrigerante. Ao levantar a vista deu com uns olhos verdes amendoados, não resistiu e foi logo cobrindo a proprietária de tais olhos, de elogios e ficou de paquera, segurava a mão da garota e esta ria com a ousadia do rapaz... Ele nem percebeu que Jussara entrara e ficara do lado, ouvindo todo o blá-blá-blá do conquistador, que só reparou, na namorada, quando recebeu uma torta inteira na cabeça. Foi a maior confusão... E indagado pelos colegas, por que fora tão ingênuo, de paquerar enquanto estava esperando a namorada, respondeu: é que sou muito guloso e avarento, quero todas e não abro mão de ninguém, e é por isso que acabo ficando sempre sozinho.
Texto inspirado em Junior Jeremias, estudante de Jornalismo, e autorizado pelo mesmo.
Jacydenatal
25/06/2007