O ESPETÁCULO DÁ VIDA - capítulo IV
TIRE UMA MALA
No dia seguinte, às cinco da manhã, os artistas do circo já colocavam as coisas na caminhonete e no trailer, prontos para partir.
- Eu vou com Michael, com Penélope e as gêmeas no trailer - disse a gorda.
- Está certo - falou seu Italiano -, Lilie, Gage, Lorde e eu vamos na caminhonete.
Richard vinha correndo com o cachorro Pulguento e trazia também sua mala, que não tinha nada mais e nada menos que vento e poeira.
- Ei! esqueceram alguém! - gritou Richard.
- Ah, claro - disse Italiano -, vem Pulguento!
O cachorro saltou para dentro da caminhonete e ficou no colo de Lorde.
- E eu? - pergunto Richard.
- Humm... Tá, sobe aí.
Então primeiro saiu o trailer na frente, a gorda era quem dirigia e logo atrás ia a caminhonete com seu Italiano dirigindo. O mágico, com o cachorro, ficou na cabine, junto ao dono do circo e Gage, Richard e Lilie foram encima da traseira da caminhonete. Assim eles seguiam viagem rumo àquela cidade distante, o que para eles já era costume, pois estavam sempre viajando.
Passaram por povoados, vilarejos, campos, cidades pequenas... Numa hora e outra paravam para comerem algo e depois segtuiam pela estrada. Mas, para eles, não era cansativo, porque se divertiam muito durante a viagem com as piadas mal contadas de seu Italiano e com as palhaçadas de Gage.
- Essas estradas têm muitos buracos! - disse Lorde para seu Italiano.
- Ei! - gritou Richard, lá de trás - aqui encima está muito apertado!
- Então tire uma dessas malas daí - falou seu Italiano.
- Você ouviu o que ele disse - disse o rapaz, dando um empurrão no palhaço, que caiu na estrada -, é pra tirar um mala!
E eles morreram de rir, enquanto Gage corria feito um louco, tentando alcançar a caminhonete. E lá no finalzinho da estrada o sol partia.
CIRCO?
Os artistas chegaram lá para as dez horas da noite na cidade de Campo Minado, encostaram o trailer e a caminhonete próximos a um posto de gasolina e ali passaram a noite. Na manhã seguinte, eles montaram o circo ao lado da praça no centro da cidade, assim conseguiriam chamar mais atenção. Esperaram então até o próximo dia para anunciarem os espetáculos e dormiram ali.
Ao amanhecer, seu Italiano já acordou dando um pulo! Ele tinha uma idéia...
- Vamos espalhar cartazes! - exclamou ele.
Então, eles saíram pela grande cidade espalhando cartazes do circo. Algumas pessoas davam uma olhada no cartaz, outras viam mas passavam direto e tinha aquelas que nem repavam. O palhaço, que distribuía planfetos, viu um homem rasgar e jogar no chão o planfeto que tinha acabado de receber do palhaço. Gage então se aproximou do homem...
- Meu senhor, isso não se faz - disse Gage e o homem tão somente sacudiu os ombros.
Gage apanhou o papel do chão e sussurrou para o homem:
- Lixo se joga no lixo.
No outro lado da cidade, Lorde e seu Italiano apregavam mais um cartaz num poste de luz e se aproximou um menino bem vestido e penteado.
- Circo? - perguntou o menino.
- É - disse seu Italiano, estranhando-o.
- O que tem num circo?
- Você... Nunca foi a um circo?
- Não, meus pais não gostam que eu frequente esses lugares de classe baixa.
Seu Italiano levantou a sobrancelha e olhou para a cara do menino, mas conteu-se. O menino se dirigiu a Lorde, viu o cachorro do lado e se abaixou para apressiá-lo.
- É seu? - perguntou o menino à Lorde.
- É nosso - respondeu Lorde -, também é uma atração do circo. Quer fazer carinho nele?
- Não... Obrigado - disse, enojado - e o que ele faz?
Lorde então começou a falar com o cachorro...
- Pulguento, senta!
E o cachorro sentou.
- Rola!
E o cachorro rolou.
- Late!
E o cachorro latiu.
- Agora zig zag!
E o cachorro fez zig zag entre as pernas do mágico.
- Bom garoto! - disse Lorde, recompensando o cãozinho com um biscoito.
- Só isso? - disse o garoto - mais isso até o meu cachorro chihuahua faz!
- É? Então trás ele pro circo!
O menino revirou os olhos e soprando um ar de desgosto foi embora.
- Engomadinho - disse Lorde.
- É um garoto esperto - falou Italiano.
- É um malcriado, isso sim!
ACHO QUE ELES NÃO ENTENDERAM
Quando a noite chegou, os artistas do circo estavam ansiosos para se apresentarem ali. Seu Italiano, como sempre, recebia as pessoas na entrada do circo com um sorriso gigantesco, porém, os comentários nunca mudavam.
- Viu o bigode dele? - perguntou uma senhora para seu marido.
- Vi - respondeu o senhor -, ridículo!
Em seguida, apareceu uma mulher com ua garotinha do lado. A menina olhou animada para seu Itaiiano e depois tentou espiar para dentro do circo.
- Vai ter elefante? - ela perguntou.
- Hã... Não, meu anjinho - respondeu, simpaticamente, seu Italiano -, nós não apresentamos elefantes.
- Hummm... E girafas?
- Também não.
- Macacos?
- Seria engraçado... Mas não temos macacos aqui.
- E vocês chamam isso de circo? - disse a mãe da menina - vamos, Mônica!
O circo não estava completamente cheio, mas também não estava totalmente vazio! Seu Italiano procurou os artistas antes do espetáculo começar.
- Estão prontos? - ele perguntou.
- Estamos - disse a gorda.
- Então vou lá.
Ele entrou no picadeiro, mas ninguém aplaudiu.
- Senhoras e senhores! Meninos e meninas! Jovens e jovas...!
Alguém que estava na arquibancada comentou com outra pessoa:
- Foi impressão minha ou ele disse "jovas"?
- A maioria desses circenses são analfabetos.
E seu Italiano continuou...
- Eu tenho a honra de lhes apresentar... Ele, o mais troncho... O mais sonso... O mais tonto...Gage, o palhaço!
Depois dos elogios, Gage entrou no picadeiro encima de uma bicicletinha de trinta centímetros e simulou um tombo. Ninguém riu.
- Seu Itacalango? - disse o palhaço.
- Pois não, Gage? - falou seu Italiano.
- Você sabe qual é a vantagem do Saci?
- Humm... Não sei... Qual?
- É que ele sempre acorda com o pé direito! Ha! Ha! Ha!
Ninguém na platéia achou graça.
- Ha! Ha! Ha! Sim, claro - ria Italiano -, diga outra, Gage!
- Você sabe por que a tartaruga vive tanto tempo?
- Por que a tartaruga vive tan... Não, não sei... Por quê?
- Porque ela nunca alcançou a morte!
- Ha! Ha! Verdade, verdade!
Mas o público não dava uma risadinha sequer.
- Acho que eles não entenderam - falou Gage.
Então, com um falso sorriso, Italiano deu um empurrão em Gage e o palhaço se despediu. Prosseguiram os números...
- Agora, é hora de suspense... Com vocês... O domador de leões e o leão!
E lá vem o domador, que na realidade era Lorde fantasiado, trazendo a jaula coberta com um pano.
- Então, seu domador - dizia o dono do circo -, o pessoal está empolgado para ver o tal leão, não é, pessoal?
Cri, cri, cri...
- É... Então, ele está aqui - falava o domador -, bom, eu acho que está.
- O que você quer dizer com isso, ó, incrível domador?
- É que o mágico já me aprontou um dia, fazendo o leão aparecer no meio do público!
- Mas isso é impossível!
- Sei não...
- Então levante logo esse pano e mostre o leão!
O domador fez um suspense danado e foi retirando, devagarinho, o pano da jaula e quando o retirou... Não havia nada lá!
- Oh não! - gritou o domador - ele desapareceu!
Repentinamente, no meio da arquibancada, apareceu do nada o cachorro Pulguento, aos seus latidos ensurdecedores. O pessoal chegou a se assustar, mas não achou muita graça.
- Veja lá! - disse seu Italiano - mas não é um leão, é um cachorro!
Pulguento começou a fazer seus truques, como o domador o ensinara e sempre era recompensado!
- Palmas para ele!
E aplaudiram com as pontas dos dedos.
VAMOS EMBORA, MÔNICA
No fim do espetáculo, seu Italiano se despedia das pessoas, educadamente e aquela mulher, com sua filha do lado, parou de frente ao dono do circo e cruzou os braços.
- Deixa eu ver se eu entendi - ela dizia -, então, quer dizer que o "incrível leão" era, na verdade, um... Cachorro?
- Ilário, não é? - falou seu Italiano.
- E pensar que eu deixei de ir ao casamento da minha cunhada para assistir a essa porcaria! Vamos embora, Mônica!
Continua...