NA NOITE DO ADEUS
Eu não resistia, toda noite subia naquela árvore e ficava espiando para dentro daquela janela
Eu sempre via ela, se trocando, se penteando e se deitando.
E sempre quietinho, com medo que ela soubesse das minhas espiadas, ficava estudando o seus hábitos quando se preparava para dormir.
Imaginava que ela fosse muito zelosa, pois, de tão nítida, eu supunha que ela limpava aquela vidraça, no mínimo, duas vezes ao dia.
Mas, tudo tem fim. Um certo dia recebi um telegrama da minha tia Cotinha implorando que eu fosse morar com ela.
Então, uma noite antes de eu partir, fui lá na árvore para dar uma espiada de adeus.
Ah! , Como ela estava linda naquela noite, penteando seus cabelos, apertando a bexigudinha do vidro e borrifando perfume no pescoço... Apanhou seu diário, escreveu com sorriso, sonhei que estivesse falando de mim...
E depois, para meu delírio, ela botou um disco na vitrola e com uma musica sugestiva, passou a trocar de roupa como se estivesse fazendo strip-tease e de novo, sonhei que fosse pra mim.
Com meus olhos em lágrimas, botei a mão no bolso e apanhei o papel escrito " para sempre te amarei", amarrado em uma pedra.
Olhei para ela mais um instante, dei um suspiro e com uma força certeira, lancei a pedra contra a vidraça da janela...
Estranhei aquele barulho de lata esmaltada que soou no lugar de barulho de estilhaço de vidro.
Então ela saiu na janela e aos gritos falou:
- Juvenal, seu indigente,...você me deve um penico.