ZÉ DO MATO E O DOUTOR
I
Zé do Mato foi ao médico
Numa tarde de verão
Com o seu chapéu de palha
E o guarda chuva na mão
Ele saiu de sua casa
Naquele sol quente em brasa
Pra tratar do coração.
II
“Eu tenho uma queimação”
Disse ele pro doutor
“Que incendeia meu peito
E provoca muita dor
Isso só durante o dia
De noite quente ou fria
O que eu sinto é só amor”.
III
“Depois que eu faço o que for
E que é preciso fazer
Eu durmo que nem um anjo
Só acordo no amanhecer
Com o dia já clareando
Mas a dor já vem chegando
E passa no entardecer”.
IV
“O que eu queria saber
É a causa desse transtorno
Que começou faz um mês
Mas não perturba meu sono
Só não deixa eu trabalhar
Na roça e nem montar
No cavalo que é meu trono”.
V
“Parece que não sou dono
Dos filhos nem da mulher
Que não mais me obedecem
Nenhuma ordem sequer
Eu já estou encabulado
O que eu quero é ser curado
E seja o que Deus quiser”.
VI
“Faça o que o doutor puder
Pra me dar o salvamento...”
Aqui foi interrompido
Pelo médico atento
Que lhe disse: - Sua doença
É aquilo que você pensa
Em cada instante e momento.
VII
Não há um medicamento
Que eu lhe possa receitar
A não ser uma dieta
Ao senhor recomendar:
“Não coma carne vermelha
E sim muito mel de abelha
Que logo irá se curar”.
VIII
Barba e bigode a cofiar
Zé do Mato respondeu:
- Sendo assim caro doutor
Minha esperança morreu
De mel de abelha estou farto
Mas eu prefiro um infarto
A não comer o que é meu.
IX
Não sigo o conselho seu
Pensando na dona Rosa
Mulher que já foi bonita
E se conserva fogosa
Só depois que eu morrer
Eu vou deixar de comer
Carne vermelha gostosa.
X
Aqui encerro essa prosa
E findo o meu relato
Sem saber se eu narrei
Algum fato ou um boato
Nas doenças do coração
Quem será que tem razão
O doutor ou o Zé do Mato?