Brinquedinho
Eu estava uma residência de madeira, de estilo europeia, de um casal de cinquenta e poucos anos, estrangeiros. Comunicávamo-nos em inglês. Eram da Holanda, acho. Só não lembro que diabos eu estava fazendo lá, provavelmente estava prestando algum serviço: mordomo, tradutor ou capataz. Perguntei qual era a língua materna deles, e eles revelaram o nome do dialeto que falavam.
Mais tarde, vi a esposa e a filha, uma menina de uns nove anos, chegando da igreja. Trajavam vestido longo, sapato de salto e usavam véu na cabeça. As peças do vestuário eram todas pretas. O pai fumava cachimbo em sua poltrona na sala com tapete persa que revestia o assoalho de madeira, em frente a lareira, bem embaixo do candelabro gigantesco que ilumina a sala à noite.
Chegaram à sala e o pai foi abraçá-las. Chegou também o filho, de uns doze anos. A família tinha pele bem clara, cabelos avermelhados, sardas, olhos azuis.
Repentinamente a porta dupla que ligava a sala a outras dependências foi aberta e umas seis ou sete crianças negras, de oito, nove, dez anos entraram correndo. Foram abraçar também mãe e filha que chegavam. Falavam português brasileiro. E eu, surpreso e contente, exclamei "tem criança brasileira aqui! Quero abraço também!" e elas foram lá me abraçar, tal qual fazem as crianças da escola. Fiquei na dúvida se eram filhos(as) adotivos ou empregados da casa.
Depois, fui ao quintal. E era lá, num barracão de alvenaria que as crianças ficavam. Escutavam música vinda de um radinho e repartiam um cigarrinho de maconha. Disse que eram muito novas para fumar, mas elas ignoraram minha observação. Por fim, sentei junto com elas para participar da roda e dei também umas fumadas. E juro que o cheiro da maconha pareceu ter ultrapassado as barreiras deste sonho imprevisível.