O pior texto do mundo
A BOLA DA VEZ NA TENTATIVA FRUSTRADA DE REALIZAR O ROUBO DO ANO
"A segurança pública tá vivendo seu inferno astral por anos a perder de vista. Vamos aproveitar, Chico! De onde viemos? Para onde vamos? Não sei responder porque sei que nada sei. Salvo exceção: por que estamos aqui. Sei tanto quanto sei que meu nome não é Belasmino. Estamos aqui porque não temos nada a perder e também para provar que não há nada que esteja tão ruim que não possa piorar".
Naquela bela tarde de domingo os pássaros voaram sob um sol que brilhava radiante no céu de fim de inverno. Entediado no banco de passageiro, Chico mascava chiclete, observando Claudecir também entediado em frente o volante, sorvendo vagarosamente o conteúdo de um copo Starbucks.
- Não acredito que você tá bebendo café com este calor de rachar taquara!
- É groselha.
- Puta que pariu! E porque você trouxe neste copo?
- Pro leitor pensar que era um clichê.
- Dá um pouco aí que eu tô morrendo de calor - com a graça de Deus, Chico é um cara generoso. Não deu o copo dele, mas outro, também da Starbucks, cheio até a boca com groselha geladinha.
- Pegou tudo?
- Sim. Essa belezinha aqui caiu como uma luva - chacoalhou o tecido fino marrom.
- Preparado?
- Firme e forte igual prego na areia - Chico olhou pra mim. Eu olhei pra ele. Vou contar.
- No três. Um... dois... três! Vestimos as máscaras e saímos do carro para o serviço. Pensa numa ação! É crime. Pensa num crime! Um não. Pensa NO crime. Pensou? Então você sabe qual é. Isso! Roubar um banco! Tá entendido de clichê, leitor camarada!
Mas um imprevisto não estava nos planos: o carrinho de mão se mostrou frágil para suportar o peso do cofre. Não deu pra carregar até a van preta de vidros pretos com calotas pretas.
- Macacos me mordam! Santo azar, Claudecir! Era só o que faltava! O que vamos fazer agora?
- Plano B! Vamos ao plano B!
- E qual é o plano B?
- Fazer jus ao que minha avó ensinou: "desgraça pouca é bobagem". Vamos fazer o que faz o bom bandido quando falha: tocar o terror! - olho para o vigia amarrado. Estava prestes a chorar.
- Matar?
- Que mané matar o quê, rapaz! Tá querendo pegar cadeia? Vamos roubar alguma outra coisa!
- O quê?
- Tem armas aqui? - perguntei ao refém.
- Não, senhor.
- Não mente!
- Não tem, senhor. Eu juro!
- Tem computador?
- Muitos!
- Onde?
- Lá em cima! É da sala duma molecada que mexe com essas coisa de computador, tem um monte lá, de tudo quanto é tamanho! - detalhou, aliviado ao perceber nosso interesse.
Quando retornamos, trazendo CPU debaixo do braço e monitores no saco preto, pelo vidro da porta vimos a barricada de viaturas e os tiras nos apontando suas armas. "É melhor vocês se renderem. Estão cercados". Vi até um helicóptero ao fundo. E não sabia quanto daquilo era real ou simplesmente fruto da imaginação de um cagado. Em forma de pergunta, fiz o último, mas não menos importante, desabafo: "que país é este?".