Eu Preciso Dormir!
O mais comum, numa situação destas, é tentar o relaxamento.
- Barriga para cima, respiração abdominal e não pensar em nada.
- Não pensar? Dizem que só tendo uma mente oriental...
- Conversa! Um oriental, com certeza, vai estar pensando em haraquiri, saquê e na gueixa que fica com frescura e só quer tocar aqueles instrumentos esquisitos e cantar um treco chato que ele deve entender, mas que fica falando da flor da cerejeira, e de como é bonito morrer em situações horrorosas. Ou seja, dar que é bom, pissurongas. Além do que com estas musiquinhas brochantes, o cara deve mais é querer ir para casa. Daí ele tenta compor um haikai, ou seu poema de morte, aquele que vai dizer quando for fazer o haraquiri (ou sepuku, que está mais na moda, mas que também dói prá dedéu) - daí, não dorme mesmo!
Como se vê, o oriental tem muito mais que se preocupar do que nós, que só temos o PCC, mensaleiros, o Lula se reelegendo, e outras trivelas.
Mas como eu estava dizendo, parar de pensar é só para quem só tem titica na cabeça. Pensar em titica é ruim - daí, é mole!
Para quem não tem, como você - tenta, tenta, e quando acha que conseguiu, um pensamento já entrou de fininho e você está pensando naquela gostosona lá do trabalho (ou no gostosão, depende de você) -O pensamento já rolou para quanto está devendo no cartão de crédito, no projeto que está atrasado, e vai, vai, vai... Só uns vinte minutos depois é que se lembra que estava tentando relaxar.
A esta altura, a musculatura do ombro já empedrou, e um comecinho de acidez tá pintando.
-Tudo bem. Vamos começar de novo... um segundo, dois, cinco segundos (meu record máximo) e pumba, de novo! Outros vinte minutos perdidos...
- De novo! Vamos nos concentrar na respiração: um, dois, três, o portuga é freguês. Quatro, cinco, seis, o otário é francês.
Putz, este negócio deve dar cadeia. Falar de portuga agora, além de policamente incorreto, dá cadeia. E francês? Bem, francês, francês... Que é que tem francês? Puxa vida, como eu gostaria de falar francês. Tem aquele vizinho que fala, mas ele é meio abichornado. Além disto, recebe uns rapazes para ver um jornal nacional que só termina depois do Jô. Ele dá aulas particulares, mas sei lá quanto, ou o quê ele cobra. Tem uma francesa que mora ali na outra rua, mas ela deve ter uns cento e dez anos, e cospe quando fala. Parece um chuveirinho... puta merda, o meu chuveiro pifou hoje! Quanto é que será que vai custar? Qual é mesmo o nome daquela gostosona? - Acho que o portuga sabe. Ou será que é o francês? O barulho do trânsito está aumentando... já deve ser umas cinco e meia da manhã. Como é que eu vou chegar à reunião das oito podre deste jeito?
- Saco, e esta agora! A Pafúncia está roncando! Como é que eu vou dormir assim? Dormir, eu queria tanto dormir...
- Ô Zé!
- Grunf!
- Acorda! Não vai almoçar não?
- Almoçar? Que almoçar? - A reunião, meu Deus, perdi a porra da reunião!
- Reunião, Zé? Hoje é domingo...