Uma de Bilac

Era bem fundamentado, e nunca contestado, o apodo de príncipe da poesia atribuído a Olavo Bilac. Na métrica, no rumo e na rima o vate, sem disparate, estava por cima. Além daquela inspiração, da qual nunca abria mão. Somente e só mente, o coração.

Bilac, contudo, era desorganizado na sua vida pessoal. Nas finanças então era o desastre em combustão. Um dia, visitando seu alfaiate, um bonachão Augusto da Paz, foi lembrado de que tinha com ele uns atrasados. Pendurados.

E Bilac foi ainda dos mais ousados: encomendou um terno novo ao bom Augusto, mas encontrou severa resistência. O homem, que pachorrento era, por pouco não vira fera:

- Mas Olavo, não posso ser teu escravo. Paga-me o que deves e o terno contigo leves...Serei dos mais breves...

Olavo hesitou, hesitou, mas a mão na algibeira nem enfiou. E foi com engenhosa proposta que voltou:

- Meu bom Olavo, se meto teu nome numa de minhas composições, me fias esse terno? Olha que preciso dele para um baile de gala na Ilha Fiscal, em que se decidirá e se anunciará o autor ganhador do hino à nossa bandeira...

Augusto embeveceu-se, rendeu-se. Fez o terno e achou o tempo de espera eterno. Mas quando, na companhia do amigo poeta, ouviu a execução do hino, sentiu-se de novo um menino, nababesco, principesco:

"Salve lindo pendão da esperança, salve símbolo Augusto da Paz!"

Ah, o escroque do Bilac era mesmo um ás...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 23/07/2015
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