O espelho
Ninguém conhecia espelho naquelas bibocas. Tendo ido à cidade, que ficava
bem distante, o João conheceu um deles, e se encantou com aquela maravilha, pela qual deu seu cavalo.
Chegando em casa após esfalfaste caminhada de dois dias, meteu a preciosidade no fundo da maleta, com o propósito de a guardar bem e no dia seguinte exibi-la à família.
Contudo, tendo saído tão de madrugada para a faina do curral e do campo, esqueceu-se, temporariamente, daquela prodigiosa peça.
A mulher, ao acordar, movida pelo instinto e pela curiosidade de fêmea, em sua matinal blitz, topou com a peça. Olhou-a e a olhou à beça. Não pode crer no que viam seus inocentes olhos: o marido tinha outra, e o retrato estava ali, na sua cara.
Correu para junto à mãe e, chorosa, fez-lhe a revelação: era ou não era marital traição?
A velhota, tomou o espelho, com toda propriedade de uma magistrada, mirou-o, mirou-o, e sentenciou, confortada:
- Deixa de bobagem, minha filha, vê lá se ele iria trocar você por essa sirigaita toda enrugada?