CUIDADO COM O QUE VOCÊ FALA
Hoje, com essa onda de processar o próximo por qualquer coisa, não é bom facilitar. Você abre a boca e vupt, daí a uns dias recebe uma intimação. Aliás, tudo começou quando os descendentes de Platão resolveram cobrar direitos pelo uso da expressão “amor platônico”. Foram seguidos pelos herdeiros do poeta Dante – aquele que passeou pelos infernos – que proibiram a livre utilização do termo “cena dantesca”.
E agora, como é que fica nosso vocabulário, se resolverem interditar o uso de algumas palavras, propriedades de herdeiros? Ainda mais que alguns termos já se acostumaram a andar agarradinhos com outros, de um jeito que ninguém desgruda: calor senegalesco, plano mirabolante...
Quando você quiser mostrar erudição e organizar um “jantar pantagruélico” terá que pingar uns trocados no cofre dos tetranetos de Rabelais. Se realizar uma “fuga rocombolesca” (do herói Rocombolle, e não da torta do mesmo nome), dinheiro na mão dos herdeiros de Ponson du Terrail. Se gosta de criticar as “definições acacianas” de seu cunhado, evite que isso seja do conhecimento dos familiares de Eça de Queiroz.
Ao pedir seu lanche, olhe bem para os lados antes de declinar o nome “sanduíche”, que é propriedade dos herdeiros do nobre do mesmo nome, o tal que o inventou, impossibilitado de levantar-se da mesa de jogo para as refeições.
Se você costuma falar em sado-masoquismo, prepare-se: o processo virá por dois lados – dos parentes do Marquês de Sade e de Sacher Masoch. Agora, se você é daqueles que exclama a toda hora “ai meu Deus”...