EU NÃO QUERO SER NORMAL!

Sujeito dedicado a não ser vazio, em áridos anos (sem valor à produção intelectual) da segunda década do século XXI, quer se identificar ou minimamente se assemelhar a um grupo social distinto. Então começa sua busca – num exercício de vigília, porque o sono lhe é escasso depois de horas de visão de LED do tablet – por seus caminhos mais conhecidos:

- quero ser de alguma raça ou etnia diferenciada – hummm... mas não vai dar, sou um comum e típico luso-brasileiro, com cores médias e jeitos de quem frequenta barbearia de bairro – passo;

- vou ser favelado – não dá! Moro na planície, num apartamento de um dormitório que custa uma prestação de 360 meses, mas é meu;

- ser mulher – feio do jeito que sou não enganaria o mais imprudente dos homens;

- ser homossexual – opaaa! Acho que dá, vejamos... não sou preconceituoso, tenho pés pequenos, sou careca (meio caminho para perucas), mãos macias... mas não tenho medo de baratas, me confundo todo com as terminologias do gênero (transexual, transformista, bi, drag queem, etc), vou ficar cheio de coceiras se me depilar e acho homens muito feios... ah! E não sou tolerante a mínima dor – passo;

- vou tentar ser deficiente – plano: me dou um tiro no tornozelo com uma arma de calibre bem alto. Vou experimentar... (deu merda), lembrei de uma vez que acertei o martelo de bater bife no tornozelo e doeu pra caramba! Outro...

O sono tá chegando e eu tenho que explicar como acertei o tornozelo com um martelo de bater bife: foi tentando bater bife...!

Voltando:

- vou ser jovem – já passei dos 33... idoso também ainda não;

- vou ser cantor de rap – fui criado ouvindo o programa do Teixeirinha, não vou me habituar ao ritmo;

- um cachorro... bingo!!! Vou adotar um cãozinho e me tornar defensor dos animais... (deu merda de novo!) Meu apartamento é de 36 metros quadrados e trabalho até as 20h00.

Que sono... mas não quero ser normal... não tem graça, não dá ibope, não dá pra fazer passeata, manifestação, não tem atendimento prioritário nem vaga de estacionamento...

Amanhã penso mais... mas não quero ser normal!!!

Tarcízio
Enviado por Tarcízio em 03/07/2015
Código do texto: T5298179
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