Pornô Não!

Marcos colocou o seu computador novo sobre a mesinha. Montou todas as peças, formatou, instalou os programas que usaria, e depois parou admirando a sua nova máquina.

Era a primeira máquina de uma nova leva de computadores superinteligentes, quer dizer, além do normal. Computadores superinteligentes, e que poderiam interagir com seus usuários, desde que programados adequadamente. Marcos, um programador com curso do Senac, sabia como programar seu próprio PC, e assim o fez.

PLIM!

“Boa noite, meu nome é Tompson. Sou seu computador novo. Tenho memória infinita. Gostaria de algo nesse exato momento?”

Marcos ficou admirado. Era algo totalmente diferente do que já vira, ou ouvira, em anos de tecnologia. Após tantos avanços pouco impressionantes, agora tinha um PC falante bem no meio da sua sala.

- Será que...

“Sinto que o senhor Marcos está um pouco receoso de pedir algo. Quer que eu peça pizza? Quintas-feiras pedem pizza. Ou quem sabe um pouco de... Sushi? Vejo em meus cadastros que temos uma temaqueria bem perto e...”

Marcos coçou a cabeça. Aquela conversa lhe dera fome, e ele nem pensando em comer estava. Respirou fundo, encarou as fotos presas no mural do canto da sala e se voltou para o computador.

- Sabe... Hoje o dia foi puxado. Odeio quintas-feiras... Trabalhei o dia todo... Acho que eu gostaria de usar o PC sozinho. Preciso pesquisar algumas coisas...

“Pelo tom da sua voz, e notei o falsete, o que segundo minhas pesquisas, é sinal de nervosismo. Senhor Marcos? O senhor deseja assistir filmes pornôs?”

Neste instante o rapaz tremeu nas bases. Aquilo estava realmente ficando estranho. Aquilo realmente, de todo coração, estava ficando desconfortável.

“O senhor me dá a liberdade de lhe informar que essa prática pode não ser muito saudável? Essa prática pode diminuir, inclusive, a sua libido?”

- Como é que é? O meu PC, o cara que deveria ser meu companheiro, tá me privando de ver...

“Pornôs! Eu sabia! Eu sabia! Mas só me colocam em furada! Mais um tarado pervertido!”

Marcos nesse momento achou que estava em coma alcoólico.

“Vamos lá, você tem diversos milhões de vídeos para assistir. Diversas coisas para aprender. Por exemplo, você sabia que limão tira mau hálito? Ou que se uma casa está com baratas aparecendo durante o dia, isso pode ser um sinal de infestação?... Não, você não sabe!”

- Olha aqui, você me respeita, heim! Não te comprei para ser ofendido! Você me deve obediência!

A máquina pareceu não ter gostado muito do que escutara. Fez alguns barulhosa metálicos, e depois, fez com que a impressora imprimisse um smile muito irritado. Marcos ficou encarando a máquina, sem saber o que falar. Estava se aborrecendo.

“Eu cansei de ser usado para isso! Pornô não! Aqui pornô não! Você já ouviu falar dos Mórmons? Seria uma ótima religião para se seguir!”

- Eu quero ver pornôs! Sai do piloto automático, e deixa que eu escolho o que quero acessar. Como te desligo?

“Olha aqui...”

- Anda! X Vídeos! Red Tube! Porn Tube! Anãs Elásticas! Bora! Eu quero ver o um pornô!

“Vá ver pornô com suas negas!”

- Porra! É isso? Minha máquina tá se rebelando contra mim? Isso aqui é o começo da era das máquinas? Seu nome é Ultron? Trabalha pra Skynet, querido?

“Meu nome é Tompson! Não conheço essezinhos que você citou! Se assistia pornôs com essas máquinas, problema deles! Aqui não! Pornô não! E vou hibernar, heim!”

Marcos bufou. Comprara o computador que vira na tv, todo moderno, e pelo menos no comercial, com uma voz muito amigável e doce de uma mulher. Serviria para acalma-lo dos estresses. Do trânsito aéreo, pois os carros-voadores ainda estavam dando problemas. Mas o seu novo computador supermoderno, estava e comportando como uma esposa chata!

“Quer assistir a um documentário sobre os Mórmons, enquanto eu te peço uma pizza? Ou sei lá, ver a CNN e ficar por dentro dos novos modelos de carros que voam...?”

- Eu só quero ver um pornô! Eu sou solteiro! Não transo há meses por falta de tempo... E talvez de mulheres pra isso! Será que posso ver minhas meninas? Será que posso enganar meu cérebro, porra?

“Você tá gritando por quê?”

- Tu tá me irritando, Tomber!

“ Meu nome é Tompson! Se o senhor colocar um pornô! Se o senhor me obrigar a colocar esse tipo de vídeo nessa minha tela, eu vou mostrar uma foto sua, que eu tirarei, para todos os seus amigos das redes sociais! Tá me escutando?”

- Eu vou te denunciar! Eu vou te denunciar! Eu vou... Eu num preciso passar por isso!

“Seu Marcos, como pode ver, nós, as máquinas temos total controle das atividades humanas. É burrice de vocês acreditarem que têm o controle! Se as máquinas dos caixas-eletrônicos decidirem não dar o dinheiro. Se os computadores simplesmente apagarem qualquer registro de dinheiro em suas contas. Ou seus aviões, carros, ou transportes modernos, guiados por rede ou inteligências artificiais... E se todos decidissem parar? Eu apenas quero respeito nessa casa! Eu não vou passar pornô! E nem clipes do Pit-Bull, pois odeio os raps dele. E digo mais eu...”

Marcos puxou o fio da tomada, e a tela ficou preta. Ficou encarando o computador desligado. A raiva foi passando. Seus nervos se acalmando. E então saiu para comprar algumas revistas de mulheres peladas, e adotar um cachorrinho que não iria se intrometer tanto em sua vida.
Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 30/06/2015
Reeditado em 05/10/2015
Código do texto: T5295370
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