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Fernando tinha essa mania de sair à noite. Curtia o silêncio da madrugada, e na madrugada também, o vizinho não perceberia que ele estava sentado a sua porta, roubando um pouco do seu wi-fi, qual tinha descoberto a senha.

Nessa noite, estava meio frio. Ele colocou seu casaco, pegou seu Moto G com a tela totalmente trincada, (que ficou assim após cair da escada, bêbado), e foi até a porta da casa de seu vizinho... Há uns três quilômetros da sua. Morava na roça. Tinha 18 anos. E não via a hora de ir para a cidade.

O sinal da internet não era bom. E não via a sua vida sem internet. Era do tipo que ia à missa, e ficava no celular. Do tipo que ia a um encontro de amigos, e ficava no celular. Do tipo que mesmo no celular, fazia questão de não tirar os olhos do celular. Ficou confuso isso...

De repente, mais ou menos perto das 3 da manhã. Uma luz surgiu no céu. Uma luz forte. Por alguns momentos ele pensou ser o sol, que de repente, por uma falha orbital, nascera mais cedo, e de supetão. Mas a luz aumentava. Aproximava-se gradativamente, e parecia engolir tudo ao redor. Fernando sentou-se no chão. Sentiu suas pernas bambas. Mas logo se distraiu com alguém o chamando no Whatsapp, o sinal tinha rapidamente voltado.

A luz pousou, dele saiu um ser esquisito, anormalmente alto e esguio, e parecia ter algo nas mãos. Muitos diriam ser uma arma. Ou, os mais erotizados, olhando para a forma do objeto, diriam se tratar de um vibrador erótico. Mas não.

O ser continuou andando, deu uma volta no campo, e depois voltou pra nave. Fernando, quando resolveu se lembrar da luz que vira a pouco, já era tarde, ela já tinha sumido, e o sinal do wi-fi ficou fraco por alguns minutos. Pensou até em reclamar com o vizinho. Mas voltou pra casa.

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ZicFW200 estava perdido. Naquela parte da Via Láctea o sinal ficava ruim. Tanto do GPS, quanto do seu comunicador instantâneo, até mesmo o sinal do seu pênis portátil.

Descera num campo desconhecido que seu GPS chamou de Serra... Ou Terra... Nunca conseguia traduzir o som de alguns caracteres dos confins do universo. Zic, ou Z200, como seus amigos o chamavam, era um cara bacana, do Planeta Ziconusk, aonde todos se chamavam Ziconus, ou Zicanustre, ou Zica. De role em sua nave nova, recém-comprada, e com intuito de fazer inveja em sues amigos, acabara entrando em um buraco negro, e se perdeu.

Mas seu GPS mandara parar ali. Era um lugar aparentemente tranquilo, com clima ameno, e que os moradores estavam aos poucos se autodestruindo. Achou interessante, queria até aproveitar seu lugar novo e postar fotos no seu Instagram, que, segundo lendas, tinha vindo desse tal Serra... Ou Terra... Ele nunca sabia traduzir.

A nave pousara calmamente em meio a um campo aberto. Porém, no automático, Z200 aproveitara para conversar com Zaza, ou Zicanustre 3G, uma fêmea que queria acasalar, e esquecera do tal novo lugar. A nave estacionou, e ele voltou a ficar sem sinal. Saiu da nave até que conseguisse chegar a H+, porém, nada acontecia. Parou por alguns instantes encostado em uma pedra. Quase se distraiu com um cheiro diferente, como o da carne que alguns líderes assavam em festas do povoado de Ziconusk.

Resultado, nem Fernando, nem Z200 souberam da existência um do outro. Talvez isso tenha sido bom para ambos. Fernando nunca fora sequestrado e posto em sacrifício, e Z200 nunca descobrira que terráqueos não são como os marcianos, que ficam bom com batatas e molho de laranja.

Coisas que só o vício em tecnologia proporciona.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 28/06/2015
Código do texto: T5292942
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