O PULO DO GATO
Nasceu mais um menininho no Ceará!
Naquele dia fenomenal, aconteceu assim...
O primeiro filho de um casal, sonhado há muito tempo, no primeiro minuto de um novo dia, veio ao mundo pelas mãos de uma parteira, à luz tênue de uma lâmpada quente dourada.
Foi retirado sem delongas, virado de cabeça pra baixo, e não chorou! Levou uma palmada no rosto e... nada! Tinha os olhos semi-abertos e esboçava um tímido sorriso... enigmático!
A parteira olhou perplexa para o pai, que a tudo assistia, calado e apreensivo, e perguntou:
-Devo bater mais forte?
E o pai: - Claro que não! Nasceu um cabra-macho no mundo!
Então, assim sem choro, sob à luz amarela, envolveu-o num pequeno lençol alvejante e depositou-o nos braços da mãe, que sim, a essa altura , chorava copiosamente...
...Nessa Terra de ninguém, há anos e anos, uma família intergalática faz experiências, e de gota em gota, permite conhecer a tecnologia avançada.
Dois casais, que sonhavam ter filhos homens , foram abduzidos para se por em prática o nascimento de um gênio.
O casal norte-americano iria conceber gêmeos idênticos, e o do Brasil, cuja mãe era estéril, um menino.
Por uma falha de milímetros, executada pela hierarquia subalterna , (até eles falham), o casal americano deu à luz um menino, e o do Brasil, outro menino (os gêmeos americanos foram separados!)
Então, o pequeno gênio nasceu no Ceará, filho de pais pobres. Deu-se o nome de Henrique, sendo o apelido Bil.
O pequeno era tão inteligente que ninguém entendia, quase sempre, o que falava e a maneira como agia, diferente das crianças da redondeza. Até os pais ficavam mudos, embasbacados.
A pequena aldeia achava que ele era a reencarnação do mal. Então, os pais , em comunhão com o padre local , fizeram uma vaquinha junto à população, e o enviaram para a capital, para ser avaliado numa escola de crianças precoces, dirigida por madres.
Até o o padre duvidava que ele fosse do bem, e também sentia medo, não queria arriscar-se a enfrentá-lo!.
A esse ponto chegaram, de despachá-lo, porque o pequeno Bil não se entrosava com nenhuma criança, e tinha comportamentos estranhos e rituados. Tinha o hábito de abrir janelas .A única de sua casa e a dos vizinhos! Onde entrasse, se tivesse uma janela fechada ele abria, sem pedir licença!
E quando ia nadar no rio ? Não nadava...ficava na margem, só , não acompanhava os companheiros. Sempre levava um copo de vidro, afanado do bar da esquina, e ficava um tempão tentando pegar um peixinho com a mão, até que conseguia, aí mergulhava-o dentro do copo , e passava outro tempão admirando-o, e conversava com ele. Chamava-o de Software, e dizia:
- Software, Software, olha pra mim... Aí cansava, o levava de volta ao rio, deitava-o suavemente na água, e chorando conjecturava: - Bye Software, não consigo , não consigo criá-lo...
Todos que o assistiam ou ouviam, sentiam medo, porque achavam que era a voz enigmática do mal. Entreolhavam-se e se perguntavam: “ o que esse guri diz?!!...bai, bai, sófuer..!??”
E assim, aos oito anos, embarcaram o menino Bil num pau de arara. Viajou horas, carregando apenas uma maleta com algumas roupas surradas , e uma foto de seus pais.
Lá chegando , a escola, já sabendo de seu histórico , logo o colocou para análise e ficaram boquiabertos!. O seu QI era acima de todos que ali estavam, e que já tinham ali passado .
Então, a madre diretora chefe, falou histérica: - Prende ele! até descobrirmos o perfil dessa inteligência, se é para o bem, ou para o mal...
E Bil passou lá todo o restante de sua infância e parte da juventude.
Quando estava prestes a fazer dezoito anos, a escola abriu as portas, e uma professora (a única que se relacionava bem com ele), falou:
- Bil, o mundo é seu! Boa sorte! Estão aqui umas economias, que sua família enviou durante esses anos, acrescentadas de nosso presente. Fizemos uma vaquinha, sabemos que vai precisar pra se sustentar , até arrumar um emprego.
E Bil, com sua maleta, algumas roupas surradas, a foto de seus pais, e o cartão da professora ,partiu para o mundo. Foi morar numa comunidade , na horizontal. Enviava seu currículo, candidatando-se a algum trabalho, mas a situação andava difícil. Embora tivesse o sufuciente para se manter por uns tempos, o que ele , de fato, não se conformava era com aquela vida pequena e medíocre. Tinha pena daquelas pessoas que o cercavam.
E estando há apenas um mês lá vivendo, enxergou a engrenagem das redes de transmissão, e criou o “gato” na comunidade. Puxava os fios de eletricidade e de tv a cabo, para as famílias que não podiam pagar.
E ficarvam todos tão maravilhados e agradecidos , que passaram a idolatrá-lo, e o batizaram de Bil do Gato.
Passado um ano, a família espacial retornou para conferir o seu programa, e ficou atônita! Fizeram uma conferência de urgência, o cabeça tomou conhecimento, e confabulou:
-Mas como se deu? Ele não podia ter nascido no Ceará , no Brasil. Um país sub-desenvolvido! O mundo terrestre ainda não está preparado para aceitar um brasileiro cearense como gênio do século , dos tempos tecnológicos. Temos que consertar!
O irmão gêmeo Henry, conhecido como Bill, o que vivia nos EUA, não era chegado à ciência dos números, inclusive havia largado os estudos. O sonho dele era fazer filantropia, pensava até em se tornar padre...
Então resgataram os dois Bils, explicaram a situação, e foi dada a solução:
O Bil do Ceará iria sumir e ocupar o lugar do Bill nos EUA. Ninguém iria descobrir a verdade. Quando ele aparecesse nas telas , os brasileiros que o conheceram , iriam achar somente parecido, nunca poderiam supor que era o seu Bil do Gato, sumido...
Bill americano ficou extasiado...finalmente iria pro espaço, de volta ao futuro...
Bil brasileiro ficou muito feliz, seu nome continuaria o mesmo, muito semelhante, não perderia sua identidade, somente não se lembraria de sua passagem pelo Brasil...
Finalmente, surgiu o gênio filantropo Bill Gates!
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De vez em quando, Bil do Gato sonha com um peixinho no copo , e pensa...” Ainda bem que não sou gato”
De lá pra cá, já nasceram muitos Bils no Ceará, muitos gatos nas redes, e outros Gates... pulando alto na Internet!