Amanhã ou algum dia, não sei, vou começar a dar um jeito na minha vida, falou ele para ninguém (como se al­guém o acompa­nhasse), respondendo a uma pergunta que não foi feita. Parou em frente ao espelho e passou a mão pelos ca­belos, num gesto me­cânico, que não alterava em nada o es­tado geral das coisas que não diziam respeito ao seu pen­teado e leu o seu último es­crito: “Eu, inquilino de mim mesmo, todo dia brigo para renovar o meu con­trato e para não chegar atrasado ao meu emprego”. Já é tarde. Dormir ou sair?
O papel aceita tudo. Garranchos sem sen­tido, rabiscos a esmo, desenhos abstratos, caricaturas de frente e de perfil, poesias bem feitas, poesias mal feitas, contas de somar e de diminuir, decla­rações de amor que nunca serão ditas, palavrões, o nome da amada do momento, da­quela outra tam­bém, mais palavrões, respostas absurdas a questões cretinas, uma grande interroga­ção e uma triste conclusão: TUDO ERRADO!
 

 
Karpot
Enviado por Karpot em 26/06/2015
Reeditado em 26/06/2015
Código do texto: T5290762
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