Brasil - do Lado de Lá
                   (texto escrito durante a Nova República, em 1988) 

Pedro Alvares, o Cabral, conhecido na roda como Pepa, era o presidente de honra da convenção que iria decidir sobre o futuro do Brasil, isso antes de 15 de novembro.
A lista dos convencionais era grande, mas mesmo assim· muitos interessados estavam de fora.
- Prudente, estou estranhando. Não fomos convocados, nem eu nem você. A família "de Morais" não será representada?
- É, Vinícius... Talvez tenha sido por falta de recursos financeiros. Se pelo menos o Ermírio já tivesse vindo...
Havia também quem, apesar de convocado, não estava presente. Barbosa, o Aguia, protestava com Machado.
- Assis, reclamei com Cabral que a bancada dos intelectuais precisava ser reforçada e ele indicou um parente; um tal Sérgio, mas protestei; esse não tem nada de intelectual. Então, ele abriu uma vaga para o Austregésilo, tudo bem, mas será que ele chega ainda a tempo?
Os militares, encabeçados por Deodoro e Castelo, se articulavam. Deô queria proclamar alguma coisa. Afinal, o dia 15 lhe trazia ótimas recordações. Já, Caxias, queria manter a ordem (como sempre, ele ali, caxias...) Pedro, pai e filho, Leopoldina e Bebel, monarquistas, trabalhando em causa própria, estavam coesos. Só havia divergência quanto a construção da Ferrovia Norte-Sul. Dom Segundo e Leopoldina, que tinham seus nomes intimamente ligados a trens, eram favoráveis, porém Primeiro era mais pelo transporte a cavalo, questão de imagem...
No bar da esquina, Lacerda, Goulart e Juscelino eram abordados por Neves.
- E se propuséssemos uma Nova República?
- Ih! Esse aí não está sabendo de nada. Explica pra ele, João - disse Carlos.
- E quanto aos Moreira?
- Só podemos contar com Delfim.
- Não gosto desse nome. Eu sei, é Moreira, mas esse nome... sei não...
- O "da Silva" ficou de vir e até agora nada, já o Franco parece que não vem mesmo.
- Pena! - disse JK.
O clima estava tenso. Havia muitos grupos de pressão.
Tamandaré e Barroso, com a simpatia de Cabral, queriam reforçar a Marinha; Betinho Dumont, a aviação, e Mauá, o da Praça, se aproximava dos monarquistas em se tratando de ferrovias.
Na outra esquina, Tirandentes e Antonio Conselheiro, lutando pelo povo, traçavam estratégias e plataformas.
- Pelas matas e pelo povo! Disse Tiradentes.
- Não! Que tal começarmos com "brasileiras e..."
- Não, não soa bem. Pelo povo e pelo verde!

- Rondon, que está do nosso lado, tem bom trânsito com os militares, pode nos ajudar.
- Ótimo! E para ficarmos mais autênticos, mais pau-brasil, além do Marechal, que tal um índio?
- Vamos ligar para aquele lá de Niterói, o Arari.
- Quem?
- O Araribóia!
- Certo, e as outras minorias? As mulheres?
- Ouvi falar numa tal de Erundina. Vamos pedir para ela vir urgente!
- Não, não! Erundina não! As muito feias que me desculpem... essa não dá, disse Vinicius que passava por ali..
Estava chegando a hora do pessoal entrar para dar início à convenção e não havia o menor consenso. Decidiu-se por um debate "ao vivo", se é que assim pode-se dizer.
Heron Domingues seria o moderador, Pero Vaz escreveria as perguntas recebidas. Flávio Cavalcanti protestou!
Iniciou-se um grande tumulto.
Chacrinha apontou para Pedro I e falou - Vai para o trono ou não vai?
Sérgio Porto cantarola o Samba do Crioulo Doido. Neves, procurando apoio, pergunta por Ulysses. A ala dos históricos, já vestidos a caráter, começa a ensaiar uns passos.
Finalmente há um pacto. Nada de convenção ou debate.
Clara Nunes é eleita por unanimidade porta-bandeira. José Bonifácio, bom de samba, é aclamado mestre-sala!
- "Foi em Diamantina que nasceu..."

 
Karpot
Enviado por Karpot em 03/06/2015
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