O Doidinho Inteligente
Seu Joaquim, que não era português, mas um sertanejo do meu velho sertão da Bahia, ia em seu fusquinha, levando de carona um menino conhecido por “Zé Doidinho”. Hoje, diríamos que era um menino com problemas de autismo. Seguindo por uma estrada esburacada, ia contemplando a paisagem, cuja vegetação é composta, em grande parte, por catingueira, juazeiro, quixabeira, mandacaru, xique-xique, macambira, entre outras. Pouco mais de uma hora de estrada, eis que um pneu baixou e teve de trocá-lo. Abriu o capuz do fusquinha, em cuja mala estavam a chave de rodas e o pneu do estepe. Desparafusou as quatro porcas da roda, deixando-as ali no chão, enquanto voltava ao capuz, levando o pneu furado para trocar pelo do estepe. Enquanto isso, passa ali uma peralta criança e sai correndo, levando consigo as quatro porcas da roda. Seu Joaquim só deu conta da travessura, quando colocou o pneu no lugar e procurou as porcas para atarraxá-lo. Desesperado, pôs as mãos na cabeça e começou a xingar até quem anda não nasceu, dizendo que estava perdido. Dali não podia sair enquanto não passasse um eventual socorro. E dizia que só por sorte não demoraria muito, pois ali, quando muito, passava um carro por dia.
E o “Zé Doidinho”, que por recomendação do Seu Joaquim, ficou quietinho no banco traseiro do fusquinha, apresenta-lhe uma ideia: “Por que o senhor não tira uma porca de cada pneu e põe neste que está trocando?”.
“Onde quatro são suficientes, três quebra o galho”. E seu Joaquim seguiu a ideia do menino, que tinha aproximadamente 12 anos de idade. De volta à estrada, saiu todo contente, proseando com o “Zé Doidinho”. Algum tempo depois, novamente contemplando aquela paisagem, surgiu-lhe uma inspirada reflexão, pensando na ideia do menino: “Escuta aqui, menino. Não dizem que você é doido?”.
E o menino, calmamente, responde: “DOIDO EU SOU, MAS BURRO NÃO”.