Parque da Cidade
P A R Q U E D A C I D A D E
Um ano e meio após iniciada a construção o Parque da Cidade foi inaugurado. Toda a população aguardava com ansiedade o momento de os portões serem abertos para o publico. Uma grande obra que o Governador presenteava ao povo tão carente de melhorias no Município. Uma cidade praticamente sem asfalto, muitas ruas sem nem mesmo estarem forradas com paralelepípedos, e quando estão têm mais buracos que pedras. Um descaso absoluto com o contribuinte.
Agora sim, a cidade conta com um parque de primeira grandeza; com um anfiteatro, ciclovia, pista larga para caminhadas, outra para quem gosta de correr, uma área com aparelhos para fisiculturismo, e outros elementos para pratica de esportes. Toda a população está feliz e agradecida com a iniciativa governamental. Finalmente uma coisa boa para o povo, tão esquecido, pisoteado, tripudiado.
A partir do próximo domingo sinto-me na obrigação de participar da alegria contagiante de todo o povo. Já me vejo fantasiado de atleta, com meia e tênis, uma bermuda grande para não me apertar os “gruguminhos”, uma camisa frouxa para não evidenciar a barriga, óculos na cara, amplificador no ouvido para conseguir ouvir alguma coisa e finalmente “A BENGALA”. A questão é que sem bengala eu não consigo dar dois passos. Tenho tonturas e mais tonturas e muito medo de cair e quebrar o fêmur.
Velho com fêmur quebrado, precisa se preparar para ficar seis meses na cama e com as costas povoada de escaras. Nada agradável, e muito dolorido e “incomodativo”. Coisa que o bom senso rejeita. Muitas vezes fico sonhando com os olhos abertos: subo no meu carango com a minha velhinha, e devagarzinho vou para o Parque com a singela intenção de caminhar, de exercitar o corpo alquebrado, salpicado de dores e contusões. Estaciono na área própria para isto, depois de escutar durante o trajeto, um bando de alucinados buzinando atrás de mim, como se fossem loucos na pista de Interlagos. _Pra que tanta pressa, minha gente? Devagar se vai ao longe, era o que minha santa mãe dizia.
Saímos do carro, e de braços dados, tentamos vencer a primeira batalha: chegar à pista de caminhadas._Chegamos! Pausa para descanso. Ainda bem que tem muitos bancos para nós. _Está pronta, minha velha, para os primeiros cem passos “rasos”?
_Estou sempre pronta. Você sabe, já nasci pronta. Vamos logo e deixe de preguiça.
Realmente ela está sempre pronta para qualquer coisa. Parece uma gazela fugindo do leão. Lá vamos nós para os cem passos – passos pequenos e ritmados. Eu gostaria de ir de braço com ela, mas ela não aceita de maneira nenhuma e diz:_Isto é ridículo, onde já se viu fazer caminhada de braços dados com o marido? Nem insista! Prefiro ficar em casa.
Tenho que aceitar, fazer o quê? Começo a andar com um medo do cão de tropeçar e cair, mas aos pouquinhos vou me acostumando. Sorrio para mim mesmo, sentindo a satisfação de caminhar e não ver nenhum perigo me rondando. Cem passos e pausa para o segundo descanso. O segundo trecho será de oitenta passos, pois começo a sentir esfalfamento. Quando chegamos aos cinquenta passos, com a bunda descaída no banco, pergunto:_minha velha, o carro tá muito longe? Quero ir pra nossa casinha, tô morto de cansado. Você dirige na volta?
_Você tá cansado de saber que minha carteira está vencida, então não diga bobagens. Você veio dirigindo e volta dirigindo. Ponto final.
Quando chegamos a casa, me jogo na poltrona e passo meia hora resfolegando, e criando coragem para tomar o banho obrigatório. A esta altura ela já está banhada, pintada e perfumada. Parece uma adolescente de férias.
O que mais me incomoda nesta obrigação semanal é ter que usar bermuda. Lembro que na primeira fez que nos aprontamos eu cheguei na sala e disse:_Estou pronto, vamos?
_Você pensa que vai para onde?
_Vou caminhar no parque, ora!
_Com essa roupa? Comigo não vai meeeessssmoo!
_Por quê? O que tem esta roupa de mais?
_Nós vamos para o Parque da Cidade, fazer uma caminhada, ou seja, fazer exercício, e você veste calça comprida? Que palhaçada é esta? Vai já tirar a calça e vestir uma bermuda!
Sabe o que é, gente? Tenho vergonha de mostrar minhas pernas fininhas. Como dizia meu cunhado, que Deus o tenha, _”Que cambitos feios da po.....”. Por isto eu só vou para o sacrifício porque o meu geriatra me obrigou sob pena de viver poucos anos. Eu não quero morrer ainda, quem quer? Vamos caminhar gente...!!!
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Anchieta Antunes =
Gravatá – PE - 26/09/12.