Historietas*
Joca de Casa Amarela - Rir ainda é o melhor remédio
Vamos rir? Esta aconteceu lá pelos anos 50, os cinéfilos de Casa Amarela, foram assistir na soirée, no cinema Rivoli “Uma Noite no Cairo”, que o então candidato a vereador, Joca, com seu Ray-Bam, à noite, havia anunciado no seu comício em pronunciar: “Cairó”! Foi alvo de gozação por muito tempo... Mais outra do candidato Joca de Casa Amarela, anos 50, Joca fazia os seus comícios por toda Casa Amarela, pouco fazia nos bairros adjacentes. Nos seus discursos iniciava sempre com o slogan: “Povo de Casa Amarela”... Resolvendo fazer também a sua campanha política no bairro do Arruda, o Joca como era muito engraçado e era festa naquele tempo iniciou: “Povo de Casa Amarela”, o seu cabo eleitoral cochichou: “Aqui é Arruda, seu Joca!” Joca meio surdo afobou-se, sem largar o microfone: “Fale alto, não gosto de cochicho”. Então o cabo repetiu, saindo as vozes pelo alto-falante: Tanto faz Casa Amarela como Arruda tudo é uma merda só”, para a risadagem do público.
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Paixão de Cristo
Era Semana Santa. Antigamente todos os anos no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, era armado o circo Tomara que não chova (por não ter empanada). O proprietário do circo havia dado, uns dias antes do espetáculo, uma pisa num rapaz, em razão do mesmo haver dado uma cantada em sua amante.
Mas o que aconteceu? O referido rapaz é contratado pelo diretor do espetáculo, junto aos demais desocupados para fazer o papel de soldado (os algozes de Jesus). Jesus carregava a cruz ao calvário, após colocarem a coroa de espinhos (feita de palha) na cabeça. Na hora em que os soldados chegavam a ele diziam: "Salve, rei dos judeus!; e davam-lhe falsas bofetadas, açoitando-o com sacos de estopa.
O rapaz inimigo, premeditadamente, colocou um "quiri" (pau) dentro do saco e danou pelo lombo do Cristo. Ao reconhecer o dito cujo, Jesus soltou a cruz e foi em cima do inimigo. Foi aí que começou a inesperada comédia. Brigando, Jesus leva desvantagem... e outras cacetadas foram dadas. Cristo então
corre, para alegria da platéia, que gritava: "Jesus frouxo!", "Jesus frouxo!".
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Honestos e desonestos
Vejamos algumas das causas mais freqüentes de problemas para as empresas e que podem interferir na sua sobrevivência: Custos, Preços, falta de Capital de giro, Inadimplência dos clientes...
Somente com uma gestão adequada e muito controle financeiro é que se poderá obter os resultados pretendidos de manter a sustentabilidade financeira (sic).
Pasmem com o que um ex-comerciante falido disse: " É melhor ter empregados desonestos do que honestos!" Perguntei o motivo e ele respondeu: " O honesto é reivindicador e não atende bem a clientela. Já o desonesto não pede aumento e trata bem os clientes. E ainda tem uma coisa, o honesto coloca você na justiça." Isso foi o principal motivo que o levou à falência. É a cara do Brasil.
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O samba de um calouro
Esta aconteceu lá pelos anos 50, durante um dos diversos programas de calouros da Rádio Clube de Pernambuco, a PRA-8. Um matuto de Glória do Goitá, a fim de ganhar uma bicicleta "Raleigh", que era o prêmio principal, se apresentou
ao animador do programa e disse que iria cantar um samba. E logo um samba de sua autoria, o que deixou platéia e apresentador surpresos. Foi dado o sinal para a orquestra e se iniciou uma verdadeira batucada. O matuto entra bem lento, com o seu cabelo "royalbriado" e trunfinha "a la Tyrone Power", um dos astros de Hollywood da época:
- A primeira casa... – e o solista, com o seu piston, melodiava: "Táá...rá...rá...rááá..."
E o matuto prosseguia:
- A segunda casa... – E o pistão: Táá...rá...ráá...rááá..."- A terceira casa..., - a quarta casa..., a quinta casa..., a sexta casa..., a sétima casa..."- já na batida de samba rasgado – - A vigésima casa..." Sem sair deste ritmo, o matuto conseguiu arretar o locutor do programa. Este fez sinal para a orquestra parar, dizendo:
- Vá fazer Vila Popular na casa da puta que o pariu.
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Ônibus/Sopa/Beliscada
Antigamente, o povão chamava os ônibus de "sopa" e, um dia, uma mulher viajava na linha de Nova Descoberta-Casa Amarela. Em dado momento, ela reclamou ao cobrador que estava sendo beliscada pelo mágico Seu Alegria, dono de um pequeno circo, em Casa Amarela, e apelidado de Tomara-que-não-chova (por não ter empanada).
O mágico se defendeu, dizendo que era o galo que carregava no colo. Foi bem pior. O cobrador disse ser proibido levar animais no coletivo. "Seu Alegria" não teve dúvidas e jogou a ave pela janela. Ao descer na parada do Vasco da Gama, lá estava o galo de novo no braço de Seu Alegria para surpresa de todos. Aí Seu Alegria gritou para dona:
"Segue a tua viagem beliscada", para a risadagem dos passageiros. Por isso, até os anos 60, muita gente também chamava os ônibus de "Beliscada".
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Sargento peba
No regime militar havia muitas promoções por atos de bravura ou merecimento. Principalmente na Polícia Militar de Pernambuco, chamavam os promovidos sem curso de "Peba", "Joly" ou "Mobral". Em 67, aconteceu um espetáculo grotesco: Um cabo "peba", comandando uma guarnição da radiopatrulha, ao passar pela ponte do Pina, avistou uma velhinha pescando com um arame "unha-de-véio" (crustáceo). O peba ordenou o soldado motorista parar a viatura, desceu, e resolveu jogar-se em cima da velhinha derrubando-a na lama. A velha quase morre de susto! Ambos melados de lama foram parar no Hospital da Polícia Militar. Na outra semana cantou no Boletim Geral a promoção do peba a sargento por ter praticado "um ato heróico no salvamento da vítima de afogamento..."
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Almas penadas
Zezinho trabalhava na padaria de seu Manoel, um português avarento da peste, a padaria ficava na Rua Padre Lemos em Casa Amarela, bem perto do cemitério.
Desde pequeno que ele tinha medo de alma. Além de trabalhar no balcão, fazia papel também de "pãozeiro" (anos 50 era quem entregava de madrugada nas casas dos clientes). Certo dia, quando passava pela calçada do cemitério, ouviu uma voz fanhosa:
- Ei, me dá um pão.
O susto foi tão grande que Zezinho derrubou o balaio cheio de pães e voltou às carreiras para a padaria mais branco do que cal. Só não viu o vigia "Fom-fom" (apelido de ter a voz nasal) morrendo de rir. Na padaria, o portuga carola tranqüilizou Zezinho:
- Fique calmo, Deus é pai. Vou descontar os pães de seu salário. Agora, você deve acender velas toda segunda-feira, à noite, para as almas penadas.
Zezinho pediu demissão na hora, dizendo:
- Alma, eu não quero ver mais nunca, nunca, nunca, nunca...
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Trem de brinquedo
“(...) A mãe trabalhando na cozinha, ouvia o filho brincar com o novo trem à pilha na sala de estar. Ela escutou o trem parar:
- Todos os filhos-das-putas, que querem desembarcar, saiam desta porra de trem agora, porque essa é a última parada! – dizia o filho fazendo papel de locutor – E todos os filhos-das-putas, que estão embarcando nesta porra de trem, sentam suas bundas no assento, porque essa merda partirá daqui a dez minutos!
- Nós não usamos esse tipo de linguagem aqui em casa! – disse a mãe, aborrecida.
– Vá, já para o seu quarto e fique lá de castigo por duas horas.
Duas horas depois, o garoto sai do castigo e volta a brincar com seu trem. Logo o trem pára e a mãe ouve:
- Todos os passageiros que estão desembarcando do trem, por obséquio, lembrem-se de levar os seus pertences. Nós agradecemos, a todos, por viajarem conosco e esperamos que tenham feito uma ótima viagem, muito obrigado.
A mãe estava contentíssima. Valeu a pena o castigo. Aí o garoto acrescenta:
- E para os que estão putos da vida com o atraso de duas horas, reclamem com a minha mãe que ta lá na cozinha.
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Canto do Poeta
(então Bar Savoy)
Clodoaldo de Freitas era um frequentador assíduo do então famoso Bar Savoy. Aos 80 anos, gosta de contar algumas historietas em torno do poeta Carlos Pena Filho. Seguem algumas delas:
Mentir ou morrer
Carlos Pena Filho chega ao então Bar Savoy e já encontra o professor Samuel McDowell, mestre em Direito Internacional. Mas, no Savoy suas aulas eram sobre Shakespeare ou Baudelaire.
Carlos, preocupado, diz que se saiu mal numa prova oral. Arnóbio Graça, catedrático de Economia Política, não era brincadeira.
“Enrolei na resposta, ele perguntou onde ouvira tal coisa. Eu disse que estava no tratado do famoso scholar de Harvard, o Frederick Zinneman”
Havia estreado no cinema São Luís o western clássico de Fred Zinneman, Matar ou morrer.
Dia seguinte, McDowell diz a Carlos (os dois se encontravam diariamente na calçada do Savoy, raramente na Faculdade de Direito onde teoricamente um estudava, e o outro, ensinava): “Olha, rapaz, o Arnóbio me disse que também vai a cinema. Mas, te deu nota suficiente para passar de ano.”
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Duas cores
Carlos Pena era afilhado do general Cordeiro de Farias. Eleito governador de Pernambuco, o general fez o poeta ser nomeado para alto cargo, Procurador do Serviço de Obras Contra as Secas. Carlos, na verdade, nunca soube onde ficava a repartição. O garçom Careca, como era chamado por todos, já trazendo o chope caprichado, bem tirado, como os mais velhos contam: “Freqüentador do Savoy que se preza, vai mesmo é de chope.” Quando chega o Alecrim (nome fictício), senta-se e começa a falar mal, dizer horrores do general Cordeiro. Que, governador do Rio Grande do Sul, ficara conhecido como general Lustre. Carlos pergunta: “Ilustre?” O outro repetiu: “Lus-tre! Porque levou para casa os lustres de cristal do Palácio do Governo.”
O dito cujo afinal foi embora. Carlos Pena Filho pediu outro chope e disse:
“Não é por nada, mas de fato acho que costeleta, oposição e sapato de duas cores só ficam bonitos nos outros.”
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Toda a poesia
Tudo é motivo para poesia. Estavam à mesa do Savoy, Carlos, Clodoaldo, Maviael (meu irmão), Otávio de Freitas e Fernando Jorge de Lima. Carlos Pena faz um comentário rigoroso sobre os oradores do Parque 13 de Maio: “Uns totais ignorantes. Nem sabem que não sabem coisa alguma. Mas, se consideram gênios. Cada um crê que tem o borbulhar do gênio.”
“Deve ser ameba mal tratada”, diagnosticou Otávio, médico e escritor.
- A gente é feito sabonete Vale Quanto Pesa (Foi preferência nacional das décadas de 50/60).
Carlos Pena Filho incorpora a boutade ao poema em que ridiculariza aquele grupo:
“Cada qual sente um gênio
dentro de si borbulhar.
E, coitadinhos, nem sabem
que o que borbulha é a ameba
que não puderam tratar.”
* Gravado em disco – fev/2003.
Extraído dos livros “Miscelânea Recife” e “Trem Fantasma”.