O blefe
Blefe vem do inglês, “bluff”, e quer dizer..., bem quer dizer blefe mesmo, à falta de palavra melhor. Como seria blefe em português: enganação, rolo, operação navalha, operação trovão, hurricane?
(Aliás, esses nomes de operações da polícia federal são sensacionais, quem será o gênio que as batiza? Tem um tremendo senso de humor, diferentemente daquelas outras sem graça, tipo, operação tempestade no deserto. Espero que não sejam blefes!)
No blefe induz-se o adversário a achar que o teu jogo, ou jogada, é exatamente o oposto do que se tem. Aposta-se tudo sem jogo algum, ou vice-versa. Por exemplo, vocês podem estar achando que eu tenho uma história super engraçada para contar, já que estamos na seção de humor. Outros, que me conhecem de outros carnavais, já devem saber que estou enrolando, e que estou me valendo da surpresa de um título para obter mais uma leitura. Na verdade, abrir um texto pelo título é sempre uma espécie de jogo, onde, muitas vezes, alguém está blefando. Eu, sinceramente, estou escrevendo de maneira inteiramente livre, sem saber aonde o desenrolar do texto vai me levar. Pretendo ser engraçado, mas o máximo que estou conseguindo é lembrar-me de algumas piadas que não ousarei contar. Não, preciso de uma história original, nem que para isso tenha que inventa-la, ou lembrar de uma história acontecida comigo.
Aprendi a jogar pôquer na turma da rua, com uns treze anos de idade. Reuníamos-nos nas casas dos amigos, nas longas tardes calorentas do Grajaú para jogar, geralmente na garagem da casa. E eu era um péssimo jogador. Naquele dia eu não tinha dinheiro e não joguei, mas fiquei de sapeando o jogo dos outros.
Estava combinado que não se poderia dizer para os mais velhos que o jogo valia dinheiro. Era só uma brincadeirinha para distrair. E quem lembrava das determinações juradas após várias horas de emocionantes blefes dos mais ousados? Eu não lembrei, e quando a mãe do dono da casa veio nos cumprimentar muito solícita, oferecendo refrescos para todos, quis saber por que um não estava jogando. Sim, por que eu, logo eu, era o único garoto discriminado que não podia jogar?
- Por que você não está jogando, fulano?
Quem disse que eu sabia mentir? Não sabia, e declarei, sem lembrar do combinado:
-É porque não tenho dinheiro...
Pronto, as caras se fecharam e ela saiu dali sem dizer uma única palavra, recolhendo os copos, inclusive os que ainda estavam cheios.
O dono da casa me fuzilou com o olhar:
- Seu babaquara, é por isso que você perde no jogo! Não sabe mentir, não, ô palhaço!
Saí dali me sentindo como o cachorrinho da história. O cachorro sabia jogar pôquer, mas perdia todas. E por quê? Porque quando recebia um jogo bom, ele balançava o rabinho.